15 de dezembro de 2017

Fátima: Teologia da mensagem

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Feliz Natal e próspero ano novo!
O centro da mensagem de Fátima, é o mistério da Santíssima Trindade; por ser objeto de uma oração ensinada pelo Anjo e outra por Nossa Senhora, podemos dizer que as aparições de Fátima, abrem e fecham com este mistério.

Lúcia, porém, disse, ao então cardeal Ratzinger, que o objetivo “prático” de todas as aparições era fazer crescer o povo de Deus nas virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade, que estão presentes na mensagem desde a primeira oração ensinada pelo Anjo: Meu Deus eu creio, Adoro, Espero e Amo-vos…

No meu entender, ao contrário de alguns teólogos, Guadalupe, Lourdes e Fátima são teofanias e não marianofanias. Quando os pastorinhos inquiriram de onde era a Senhora ela respondeu que era do Céu; portanto foi o Céu que se manifestou por intermédio dela e a mensagem que veio comunicar não era dela, mas sim do Céu, ou seja, de Deus.

As revelações de Deus acontecem em diferentes tempos, em diferentes lugares, e por intermédio de diferentes pessoas. A teofania de Fátima, é um pouco mais complexa que outras teofanias, pois acontece em diferentes lugares, por diferentes pessoas, e em tempos diferentes.  Assim podemos distinguir três ciclos diferentes nas aparições de Fátima:

Ciclo angélico nas Aparições do anjo em 1916
deixando de fora as experiências da Lúcia e suas amigas no ano 1915 por serem muito difusas e inconsequentes. Mesmo assim, puseram a Lúcia de sobreaviso para as aparições do anjo no ano seguinte, não já com estas amigas, mas sim com os seus primos. Em linha com o papel dos anjos na bíblia, este anjo é um mensageiro, e tal como o Arcanjo Gabriel anunciou a Maria que ela tinha sido escolhida por Deus para ser a mãe do Verbo encarnado, o anjo também anuncia às crianças que foram escolhidas:

“Os corações de Jesus e de Maria, estão atentos à voz das vossas súplicas (…) têm sobre vós desígnios de misericórdia. No caso de Fátima, o anjo extrapola o papel de só mensageiro e prepara as crianças para as verdadeiras aparições, as de Nossa Senhora. Algo assim como João Batista, percursor do Messias, o anjo prepara as crianças para o encontro com o sobrenatural.

Talvez seja por isso que os encontros com o anjo tenham sido de diferente natureza; as crianças referem que os três encontros com o anjo foram extenuantes; sentiam-se sugados das suas energias e ficavam quase fora de si; ao contrário os encontros com a Senhora deixavam-nos radiantes, confortados e cheios de energia.

Há um outro pormenor que pode suscitar dúvidas em alguém. Nas representações de anjos que vemos nas esculturas, nas pinturas, nos teatros e filmes, e é claro no imaginário dos pastorinhos, os anjos sempre aparecem com asas; O anjo de Fátima, porém, tal como os pastorinhos o descrevem, não tinha asas. A razão está com os pastorinhos e até podíamos ver aqui mais uma prova da veracidade destas aparições, ou manifestações do divino; os anjos de facto, na Bíblia, não têm asas, os que têm asas são os Querubins e os Serafins de guarda à Arca da Aliança.

Ciclo Mariano as aparições de Nossa Senhora em 1917
O centro da mensagem de Fátima são as aparições marianas, ocorridas de maio a outubro de 1917; as do anjo, como dissemos, foram uma preparação para estas, e as seguintes uma ajuda e interpretação destas.

Nas aparições da virgem se revela o núcleo doutrinal que é vasto, completo e a razão pela qual Fátima é a aparição mais doutrinal, mais profética e se quisermos também a mais social e política, pois, inspirou e influenciou medidas sociais e políticas concretas no século XX.

Ciclo do Coração de Maria aparições em Pontevedra 1925-1926 e Tuy 1929
Nestas aparições já anos depois, e quando a Lúcia ainda talvez não estava habituada à solidão a que fora votada depois da morte dos seus primos, a Senhora favoreceu-a com estas aparições, como aliás já o tinha feito com a sua prima Jacinta no leito de morte, para cumprir o que lhe prometera, de nunca a abandonar, dar força e a ajudar na interpretação da mensagem.

Estas visões tiveram para Lúcia o efeito que a transfiguração do Senhor teve para Ele e os apóstolos, o de confirmar a Lúcia no rumo que tinha tomado, tanto em relação à interpretação da mensagem como ao percurso da sua vida na terra, e a razão pela qual tinha sido deixada cá. Estas aparições também serviram para a Lúcia tirar dúvidas e clarificar alguns aspetos da mensagem sobretudo no que respeita à devoção dos cinco primeiros sábados.

As dimensões da mensagem de Fátima
Como aparição de maior amplitude doutrinal, no entender de muitos teólogos, Fátima é toda uma “Suma Teológica” pois toca todos os temas que são essências à nossa fé e dá pistas para os viver, tanto no campo da espiritualidade individual como litúrgica, de uma forma bem prática e pedagógica.

Dimensão sacrificial – Entendida como sacrifício eucarístico, e oferta de si mesmo no contexto da eucaristia e da vida, ou seja, fazer da vida uma eucaristia. Quereis oferecer-vos… Logo na primeira aparição mariana, parafraseando Tiago e João que pediram sentar-se um à direita e o outro à esquerda do Senhor no seu Reino, mas primeiro teriam de beber do mesmo cálice do Senhor (Marcos 10,35-45); assim os pastorinhos pediram para ir para o Céu, mas primeiro a Senhora perguntou-lhe se se queriam oferecer…

Cristo foi o que deu a sua vida, o cristão, ou seguidor de Cristo, é o que ama os outros não como a si mesmo, mas sim como Jesus nos amou, mais que a si mesmo, ou seja, dando a vida. (João 13,34-35)

Dimensão escatológica – Traduz a advertência evangélica, “se não vos converteis perecereis do mesmo modo” (Lucas 13, 3). Trata das desgraças que pendem sobre o mundo por causa do pecado. Trata também da conversão dos pecadores, e como nos podemos implicar nela e a visão profética e pedagógica do inferno, assim como a forma de o evitar.

Dimensão missionária - A Missão é transversal a toda a mensagem de Fátima; todas as práticas que Nossa Senhora pede de oração, sacrifícios, o Rosário, a consagração, os primeiros Sábados, têm como objetivo os outros, ou seja, a conversão e salvação dos pecadores e não a santificação pessoal. O seguidor e devoto da mensagem de Fátima converte-se rezando pela conversão dos outros. Tudo é orientado para os outros é, portanto, uma espiritualidade “altruísta” e não “egocentrista”.

Ao contrário da maioria dos Católicos que, naquele e também neste tempo, vivem obcecados com ganhar o Céu e o bem que fazem tem como finalidade a sua salvação individual, os pastorinhos nada fizeram para salvar as suas almas, pois a Senhora já tinha dito que os levaria para o Céu.

É como se praticassem a teologia da reforma protestante, e agora também católica, segundo a qual o Céu é gratuito para todos pois Cristo pagou o bilhete de entrada por inteiro. Com o Céu garantido os pastorinhos dedicaram a sua vida a garanti-lo também para os outros.

Assim sendo, os pastorinhos tudo o que faziam era Missão, em forma de “Apostolado da Oração”, na qual se distinguiu Francisco, buscando tempo e lugares para estar a sós com Deus consolando-o, e em forma de “Apostolado do Sacrifício”, no qual se distinguiu Jacinta que era incansável em encontrar ocasiões para fazer mais e mais sacríficos, pois ela queria que toda a gente também fosse para o Céu.

Dimensão mariana – Devoção ao imaculado coração de Maria, o Rosário como contemplação com Maria do mistério de Cristo. A manifestação da Senhora identificando-se como senhora do Rosário.

Dimensão eclesial – Comunhão solidária de toda a igreja, na oração pela paz no mundo e pela conversão dos pecadores.

Dimensão Petrina – Fátima começou com um apelo do papa e sempre envolveu os papas; o que não queria deixar-se envolver por ela foi precisamente o maior protagonista da sua mensagem, João Paulo II.

Dimensão profética – Fátima representou para milhares de cristãos, o opor o exército azul de Maria - o ativismo evangélico, contra o exército vermelho da Rússia - o ateísmo militante. O ateísmo militante continua a existir mesmo sem a tutela da Rússia, nos maçons e certos grupos de agnósticos que sempre tentam influenciar políticas contra a Igreja.

Neste tempo como em todo o tempo, Fátima é uma chamada perene a ser ativistas do evangelho dando razões da nossa esperança (1 Pedro 3:15). Ou como alguém dizia, depois do Concílio Vaticano II, um apelo a ser cristãos como membros de um partido político e militantes como membros da Igreja.

Dimensão pedagógico-religioso – Aprendizagem de orações, devoções práticas de piedade. Reparar consolar e desagravar o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Encarnar a mensagem de Fátima
É pôr em prática aquilo que Maria pediu aos pastorinhos e que eles generosamente satisfizeram, encarnando todos os aspetos desta mensagem. Toca a nós fazer o mesmo se somos amantes de Maria nossa mãe e se, tal como os pastorinhos, queremos colaborar na redenção do mundo.

Parar de ofender a Jesus – Foi o primeiro que os pastorinhos fizeram; primeiro deixaram de ser pecadores, ganhando uma consciência mais desperta que lhes permitia julgar cada um dos seus atos e expor o pecado nas suas vidas por pequeno que fosse.

Rezar o rosário todos os dias – Pelo rosário somos levados das mãos de Maria nossa mãe, a contemplar os mistérios da Nossa Redenção, ou seja, a vida do Seu filho; como ela o conhece mais que ninguém, ela, mais que ninguém nos pode introduzir ao seu filho, à sua vida e doutrina.

Oferecer sacrifícios – Ao oferecer sacrifícios estamos a pôr em prática a razão pela qual participamos na eucaristia. Ao fim da Missa em Latim, o sacerdote despede as pessoas dizendo, “Ite missa est” o qual significa não só que a missa termina, mas que estais em Missão; ou seja, termina a Missa começa a Missão.

Parte dessa missão é trazer para a vida a dimensão eucarística; comemos o corpo entregado e bebemos o sangue derramado, para sermos nós mesmos nas nossas vidas, corpo entregado e sangue derramado. Participamos na eucaristia para sermos eucarísticos e fazermos da nossa vida uma doação pela redenção dos outros. Isto fazemos, quando, como os pastorinhos, nos oferecemos ao negarmo-nos a nós mesmos, abraçando a cruz de Cristo todos os dias, negando-nos a nós mesmos, para afirmar o outro nas nossas vidas.

Devoção ao Imaculado Coração de Maria – A oração assídua coloca-nos diante de Deus que atua como um espelho que nos faz ver quem realmente somos; uma falsa imagem de nós mesmo leva a uma falsa imagem de Deus. A oração purifica as duas imagens de Deus e de nós próprios; por outro lado a oração ao Imaculado Coração de Maria purifica o nosso coração e trona-o semelhante ao dela. É do nosso interesse esta devoção pois segundo a Bem-aventurança, só os puros de coração a que vêm a Deus.

Observância dos 5 primeiros Sábados – São uma bela campanha para revigorar a nossa fé e a nossa prática cristã. São como os exercícios espirituais de Santo Inácio ou como os cursilhos de cristandade; é um começar de novo, o despertar de uma fé adormecida que perdeu o sal que dava sentido e sabor à vida que deixou, por isso, de ser luz do mundo.

Usar o escapulário – Esta prática que chegou a ser muito popular, ainda não perdeu o seu valor. Não é que o escapulário seja um talismã que nos protege de por si sem a nossa colaboração; isso seria idolatria. O uso do escapulário serve para nos recordar, hora a hora, minuto a minuto, que estamos chamados a revestir-nos de Cristo como diz São Paulo. (Efésios 4, 22-24)

Conclusão
Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para demonstrar que este poder que a tudo excede provém de Deus e não de nós mesmos. (2 Coríntios 4:7)

Ao fim desta longa digressão e estudo do acontecimento Fátima, o seu significado e mensagem, apercebo-me da riqueza, da profundidade doutrinal, profética, social e politica da mensagem. Quase nem posso acreditar como possa ter sido depositada em três crianças de tão tenra idade completamente incultas, e como apesar destas limitações, como dizemos em bom português, elas deram bem conta do recado no viver, anunciar e custodiar a mensagem de Fátima, apesar da incredulidade das suas próprias famílias a da Igreja e os obstáculos e ameaças do poder político e administrativo.

Quero terminar esta reflexão da mesma forma que a comecei: O mistério escondido aos sábios, orgulhosos da sua sabedoria, foi revelado aos simples e aceite por aquele tipo de sábios que são os verdadeiros, os que mantém a mente aberta, sem preconceitos, os que reconhecem que só sabem que nada sabem. (Mateus 11, 25)
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de dezembro de 2017

Fátima: Os primeiros sábados

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A irmã Lúcia com a imagem que mais gostava
Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Aparição de 13 de julho 1917

A aparição do dia 13 de julho foi sem dúvida a mais rica em conteúdos e também a mais emblemática da mensagem de Fátima. É nesta aparição que as três partes do segredo são reveladas por Maria aos pastorinhos e foi nesta aparição que Maria falou pela primeira vez na devoção dos 5 primeiros Sábados de cada mês.

Uma das razões pelas quais Lúcia ficou na terra enquanto os seus primos foram levados para o Céu logo após as aparições, foi para divulgar na terra a devoção ao Imaculado Coração de Maria e propagar a prática dos cinco primeiros Sábados de cada mês.

Modus operandi
Passados uns anos, em 1925, quando Lúcia já era irmã Doroteia, a Nossa Senhora apareceu-lhe para lhe recordar a prática dos primeiros sábados que tinha pedido em 1917. Desta vez a Virgem Santíssima relatou detalhadamente como devia ser feita. E como tivessem surgido algumas dúvidas sobre o modo de a fazer, o menino Jesus apareceu-lhe a 15 de Fevereiro no ano seguinte 1926 para lhe perguntar se já tinha espalhado a devoção à Sua santíssima mãe, e resolveu o problema dos que não pudessem confessar-se mesmo no dia de sábado podendo faze-lo qualquer dia do mês com tal de estarem em graça no sábado para fazerem a comunhão reparadora.

Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, ao primeiro sábado, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.» Aparição de Nossa Senhora no quarto da Lúcia, em Pontevedra a 10 de dezembro de 1925

Para entender por que se deve desagravar o Coração de Maria, é preciso entender que a gravidade de uma ofensa é proporcional à dignidade da pessoa que se ofende. Não é a mesma coisa ofender uma pessoa da rua e ofender a nossa própria mãe; a ofensa pode ser a mesma, mas a gravidade é diferente quando se trata da nossa própria mãe. Sto. Tomás diz na Suma Teológica que a Virgem Maria, por ser mãe de Deus tem uma certa dignidade infinita, proveniente do bem infinito que é Deus.

As ofensas feitas a Nossa Senhora são mais graves, porque a Virgem Maria está numa ordem diferente na qual todos nós estamos; os anjos e os santos vivem na ordem da Glória, pois vêm a Deus cara a cara; nós, se vivemos em amizade com Deus, estamos na ordem da Graça. Maria por ser mãe de Jesus uma pessoa divina, ela participa de alguma maneira na união hipostática; por isso as ofensas feitas à Nossa Senhora são graves pois indiretamente são ofensas feitas ao mesmo Deus.

Quando Nossa Senhora aparece com o seu coração coroado com uma coroa de espinhos como a cabeça do seu filho, ela quer mostrar de uma forma simbólica fácil de entender quanto ela sofre as “blasfémias e ingratidões”. Se o filho sofre a mãe também sofre.

Porque é que a Nossa Senhora nos pede esta prática dos cinco primeiros sábados? Porque ela sabe do mal que nos causamos a nós mesmos quando ofendemos o coração dela. A Virgem Maria está gloriosa no Céu, ela já não pode sofrer mais; é o feedback ou as consequências das nossas ofensas feitas a ela que a preocupam. Quando um filho bate num pai ou numa mãe idosa o mal maior deste filho não é o que é feito ao pai ou à mãe, mas o que é feito a si mesmo; um mal terrível que se um dia vem a ter consciência dele os remorosos vão consumi-lo.

Quando um confessor da irmã Lúcia lhe perguntou porque cinco sábados e não 7, como numero perfeito na bíblia? A Irmã Lúcia referiu a pergunta a Nosso Senhor, que assim lhe respondeu: "Minha filha, o motivo é simples: são cinco as espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria.
  1. As blasfêmias contra a Imaculada Conceição;
  2. Contra a sua virgindade;
  3. Contra a maternidade divina, recusando, ao mesmo tempo, recebê-La como Mãe dos homens;
  4. Os que procuram publicamente infundir, nos corações das crianças, a indiferença, o desprezo, e até o ódio para com esta Imaculada Mãe;
  5. Os que A ultrajam diretamente nas Suas sagradas imagens"
Aparte alguns não cristãos, são muitos os cristãos protestantes que ofendem a Maria e entre os católicos há certos países que têm o vício de blasfemar, como a Itália e a Espanha. Em Portugal ninguém, nem cristão nem ateu nem agnóstico algum blasfema contra Deus nem contra Maria.

Esta ofensas têm de ser reparadas, ou seja, a ordem natural das coisas tem de ser reposta. Para isto devemos realizar quatro atos: uma confissão com a intenção de reparar ou desagravar, a comunhão feita com a mesma intenção, a reza do Santo Rosário, e 15 minutos de meditação nos mistérios da vida de Jesus.

Confissão
Alem de ser uma confissão pessoal, dos nossos próprios pecados se os temos, e sempre os temos; esta confissão tem uma outra dimensão: é uma confissão devocional, ou seja, nós fazemo-la pelos que não a fazem, pedirmos perdão pelos pecados dos outros; mais uma vez a dimensão missionária de Fátima, a piedade não só ao serviço da nossa santificação, mas ao serviço da santificação dos outros.

A confissão deve ter uma intenção reparadora; no caso de esquecer esta intenção recorda-la na próxima; não tem de ser feita no sábado, pode ser feita noutro dia basta que no primeiro sábado a pessoa esteja em estado de Graça.

Sagrada Comunhão
Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.  João 6, 53

São muitos os cristãos que abandonaram a prática dominical; e entre os que ainda a mantêm há anos que não se consideram dignos de receber o corpo e sangue do Senhor. Fazemos esta comunhão reparadora não tanto por nós, mas por todos estes que não fazem corpo connosco, que não estão em comunhão plena com Cristo e a sua Igreja, vides não desligadas da cepa que é Cristo. (João 15, 5)

Rosário
Rezado com a intensão de reparar o coração Imaculado de Maria, rezamos o Rosário por todos aqueles que não o rezam todo os dias; os que ainda não descobriram a riqueza desta oração o tempo passado na contemplação dos mistérios de Cristo na história da nossa salvação.

15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário
Estes 15 minutos são para estar com o Senhor contemplando os seus mistérios, 15 como eram inicialmente ou 20 como são agora; como a meditação ou contemplação é ao Senhor, pode ser ante a exposição do Santíssimo, e pode também ser uma meditação da Palavra de Deus tipo Lectio divina como muitos cristão hoje fazem; o importante é que sejam 15 minutos para estar a sós com Jesus escondido sacramentalmente no sacrário, espiritualmente no nosso coração.

O valor desta Campanha
É evidente que tantos as ofensas como os atos de amor a Deus, revertem em nós. Deus não precisa do bem que lhe fazemos e o mal que lhe fazemos não o atinge.  Tanto o mal como o bem fica com quem o pratica. É fundamentalmente nós que nos fazemos mal e Deus sofre não porque sofra algum mal que lhe façamos, mas sim porque esse mal que pretensamente lhe fazemos reverter para nós; “Volta-se o feitiço contra o feiticeiro” “Quem mal quer fazer mal lhe há-de acontecer, diz o povo.

Muitas campanhas fazem-se para despertar um valor adormecido, na esperança de que uma vez despertado uma determinada pratica continue. As campanhas fazem-se para vencer a inércia do estaticismo, e uma vez em movimento a esperança é que se continue. Assim acontece nas práticas comerciais quando se anunciam novos produtos ou se quer que certos produtos voltem a ser consumidos. A mesma lógica opera nas práticas religiosas; é difícil tirar as pessoas de uma vida medíocre, do imobilismo e da apatia espiritual, do “dolce fare niente”.

Em dialogo com o menino Jesus na aparição de Tuy a 15 de fevereiro de 1926 acerca ainda da prática dos primeiros Sábados, e porque o confessor de Lúcia tinha expressado certas reservas em relação à importância desta prática:

– Mas o meu Confessor dizia na carta que esta devoção não fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que Vos recebiam, aos primeiros sábados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 Mistérios do Rosário.

– É verdade, minha filha, (responde o menino Jesus) que muitas almas os começam, mas poucas os acabam; e as que os terminam, é com o fim de receberem as graças que aí estão prometidas; e Me agradam mais as que fizerem os cinco com fervor e com o fim de desagravar o Coração da tua Mãe do Céu, que os que fizerem os 15, tíbios e indiferentes…

Em todas as campanhas tem de haver um fator aliciante, para tirar as pessoas da sua inércia, é preciso prometer algo em troca; nesta é a promessa de assistência, na ora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dos que forem fiéis nesta prática. Mas é claro que Deus, como refere o menino Jesus à irmã Lúcia, prefere aqueles que fazem a prática por puro amor e não por razões de “mercantilismo espiritual.
Pe. Jorge Amaro, IMC