15 de setembro de 2017

Fátima: As orações do Anjo

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Além da insistente exortação da Nossa Senhora a rezar o terço, e à pratica dos primeiros Sábados, no decorrer das aparições as crianças aprenderam orações que resumem e ilustram todos os aspetos da mensagem de Fátima. Mediante estas orações, a mensagem, de doutrina, passa a prática espiritual, quando rezadas em privado, e até a liturgia, quando rezadas em comunidade.

Aprendidas do Anjo e da Senhora do Rosário por Lúcia, Francisco e Jacinta, estas orações atualmente parte de uma tradição orante que salienta a adoração a Deus, particularmente na sua presença eucarística, e a disponibilidade do crente para o compromisso com a missão redentora de Cristo.

Tanto as ensinadas pelo anjo, como as ensinadas pela Nossa Senhora, o conteúdo das orações não versa sobre Maria, mas sim sobre o mistério de Deus e à redenção da humanidade. A Nossa Senhora em Fátima, revela desta forma, qual é o seu verdadeiro papel e lugar na história da salvação: aquele de apontar aos homens os caminhos de Deus e o de referir a Deus as necessidades dos homens. São cinco as orações de Fátima, e, como dissemos, nenhuma é dirigida a Nossa Senhora.

Doutrinalmente Fátima é a mais completa das aparições pois toca os pontos principais da teologia católica; o mistério da Santíssima Trindade que aparece já nas aparições do anjo; a Eucaristia, a oração, a penitência, a reparação, a escatologia, o ministério pontifício, a comunhão dos Santos etc..

Meu Deus, eu creio
Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. / Peço-Vos perdão para os que não creem, / não adoram, não esperam e não Vos amam.

Uma oração simples e singela, mas completa; um convite ao cristão a viver as três dimensões do tempo humano, Passado - Presente - Futuro inspirando-se nas três virtudes teologais, Fé – Esperança – Caridade.  A vida humana decorre exclusivamente no presente; um presente que quando está cheio de Caridade, inspirada no passado da dos nossos pais, torna-se em razão da Esperança que nos projeta para o futuro sem medo nem ansiedade.

A virtude da Fé: “Eu Creio” – A fé é a pedra filosofal que nos faz ver a vida e a realidade com outros olhos. A fé é um passo que damos para além do que é racional e razoável; é um risco, uma decisão, uma opção fundamental. É a chave que abre a porta da Salvação; salvação que significa Céu para o futuro, mas que no presente, no aqui e agora, se traduz em paz, felicidade, e sentir-se bem, fisicamente, espiritualmente, psicologicamente e moralmente.

A virtude da Esperança: “Espero” – A virtude teologal da Esperança é a fé projetada no futuro que confere um sentimento de segurança no momento presente. O cristão não precisa de ansiolíticos porque não tem ansiedade; perfeitamente ancorado na fé que se traduz, no presente, no aqui e agora, em caridade para com Deus e o próximo. “Quem não deve não teme” diz o proverbio; o cristão não teme porque não está em dívida com ninguém, nem com Deus, nem com os homens..

A fé também assegura os cristãos que por pior, ou melhor que seja o momento presente, tudo é passageiro e a sua é uma história com um fim feliz. O fim feliz da sua história já está assegurado na morte e Ressurreição do Senhor. Se temos a fé que nos permite acreditar que até os cabelos da nossa cabeça estão contados, como diz o evangelho, vivemos na certeza de que ainda que o momento presente possa ser de sofrimento e angustia, o melhor está para vir e a nossa história terá um fim feliz. Assim sendo, o medo e a ansiedade desaparecem e os altos e baixos da nossa vida são vividos na esperança e na fé na providencia divina e não no temor.

“Por fim o meu coração Imaculado triunfará” – Nesta fé e nesta esperança viveram os pastorinhos; em especial a Lúcia que em breve ia perder a companhia dos seus primos. Ao aperceber-se que ia ficar sozinha no mundo, a Lúcia deve ter sentido uma enorme tristeza, o que levou a Senhor a perguntar-lhe,: “E tu sofres muito por isso”? De seguida, a modo de consolo e conforto disse, “O meu Imaculado Coração será o teu refúgio, e o caminho que te conduzirá a Deus”; Ou ao Céu que já lhe tinha sido prometido a ela a Jacinta e ao Francisco logo na primeira aparição.

A virtude da Caridade: Adoro… e Amo-Vos – Só vivemos no presente, inspirados no passado e confiantes no futuro. O presente da nossa vida deve ser cheio de caridade; a caridade, o amor só pode ser vivido no momento presente. “Não guardes para amanhã o que podes e deves fazer hoje”. As boas intenções não salvam ninguém, nem a nós mesmos. A caridade não pode ser projeto, mas ação no momento presente. A caridade não pode ser adiada.

Adoro - O momento presente deve ser cheio de amor a Deus. Encontrar tempo e buscar um lugar para estar com Ele, como Jesus fazia e como Francisco de Fátima também fazia isolando-se das suas companheiras, detrás de algum cabeço ou matorral, ou passando o tempo da escola na Igreja de Fátima consolando o Deus escondido.

Amo-vos – Quando amamos a Deus de todo coração como Pai, olhamos para o outro com outros olhos; já não é o nosso inimigo, o nosso rival a quem tememos ou invejamos, mas sim o nosso irmão a quem desejamos todo o bem do mundo. Neste sentido o amor a Deus não existe sem o amor ao próximo e vice-versa, por isso, para Jesus, os dois fazem parte de um único mandamento do amor.

Fátima Missionária – “Peço-Vos perdão” … Para além de exortar a vida dos cristãos nas virtudes da Fé, Esperança e Caridade, esta oração deixa bem claro que o cristão não vive para si mesmo nem sequer para a perfeição pessoal; o cristão vive para os outros, os outros são sempre parte integrante da sua vida pessoal. Daí preocupar-se com eles como se preocupava Jesus que veio para os enfermos e não para os sãos, que não criticava os maus, os pecadores, mas acolhia-os com misericórdia. Como a Jacinta quando dizia,” Coitadinhos dos pecadores” …

Peço-vos perdão - porque não evangelizei, porque não saí fora de mim mesmo, porque vivi de portas para dentro fazendo da fé um segredo a levar para a sepultura. Como dizia Karl Rahner Deus na sua infinita misericórdia salvará aqueles que sem culpa pessoal, não ouviram falar Dele, não O conheceram e, por isso, não tiveram oportunidade de encontrar-se pessoalmente com Cristo; mas salvará aqueles que tinham por dever de ir e falar-lhes Dele e de O dar a conhecer?

Neste sentido, Fátima é verdadeiramente missionária, não só por ser um apelo à evangelização, mas por obrigar os cristãos a considerarem-se pecadores por não serem missionários, e, portanto, pedirem perdão porque a sua inatividade, leva os outros a não crerem, esperarem e amarem. Este sentimento de culpa deveria levar os cristãos a ecoar na sua consciência as palavras de São Paulo, o maior evangelizador de todos os tempos: “Ai de mi se não evangelizar”.

 Peço-vos perdão –não só porque não evangelizei, mas ainda escandalizei; não só não fui um degrau para os outros se sentirem edificados e subir em direção a Ti, mas fui um escândalo, uma pedra de tropeço, um empecilho.

Na história da minha vocação como em todas as histórias de vocações, foi o conhecimento de uma pessoa que encarnava essa vocação específica que me levou a desejar ser como ele ou como ela. O mesmo se passa com a evangelização de hoje e de sempre; em primeira instância, o encontro com Cristo, nunca é um encontro com a sua doutrina, ou mesmo a sua palavra, mas sim o encontro com um dos seus seguidores, com um daqueles que encarna a sua palavra e a sua doutrina.

O encontro com aquele que se afirma cristão, nunca é neutro; se as suas atitudes, palavras e obras correspondem ao que se diz ser, ele mesmo sem querer já está a evangelizar. Ao contrario se não existe concomitância entre o que se diz ser e a sua vivência, não só não evangeliza como até escandaliza, traumatiza. E, se esta for uma primeira experiência, ou seja se este é o primeiro encontro com um cristão, já dificilmente se converterá ao cristianismo.

Em todos os sentidos e em todas as áreas as primeiras experiências são extremamente importantes. A nossa forma de viver, o nosso comportamento ou é atraente e edificante, ou é repelente e escandalizante.

Santíssima Trindade
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, / adoro-Vos profundamente / e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, / Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, / presente em todos os sacrários da terra, / em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças / com que Ele mesmo é ofendido.
E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração / e do Coração Imaculado de Maria, / peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

O evangelho de São João tem um prólogo no qual resume, concentra, e interpreta de antemão toda a doutrina de Jesus de quem vai falar a seguir. Esta oração de alguma forma é uma “overture”, um introito à mensagem que a Virgem vai transmitir às crianças. Tudo o que ela vai comunicar, esmiuçadamente, já se encontra aqui concentrado nesta oração que o anjo ensinou e convidando as crianças a rezar com ele.

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo - Com a construção da Basílica da Santíssima Trindade, Fátima ficou completa arquitetonicamente. Possui agora uma arquitetura que é a expressão topográfica da mensagem de Fátima concentrada nesta oração de invocação da Santíssima trindade.

A Basílica da Santíssima Trindade, edificada em forma redonda simbolizando a eternidade de Deus, agora a porta entrada do Recinto correspondendo assim ao primeiro anúncio do Anjo, um ano antes da Nossa Senhora aparecer. Do lado direito temos o sacrifício de Cristo, que abriu a porta da salvação para a humanidade; popularmente chamada a Cruz alta.

No centro do recinto, como no centro da história humana, está Cristo dourado, nossa vida e nossa esperança, vivo e ressuscitado a abençoar o mundo tal como o viram as crianças na última aparição. Ao lado esquerdo está o lugar da aparição da Nossa Senhora, sempre ao lado de Jesus seu filho como esteve aos pés do seu berço e da sua cruz.

A Capelinha e o Cristo dourado são o lugar mais baixo do recinto, depois voltamos a subir para a basílica da Senhora do Rosário uma subida pronunciada. Basílica que é o uma torre apontada para o céu em forma de Senhora de Fátima como ela coroada com uma coroa dourada de glória, a mesma que espera a todos e cada um dos seus filhos se acolhemos o seu conselho nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Em conclusão, um ano antes de a Senhora aparecer, o anjo que se apresentou como anjo da Paz e Anjo de Portugal, ensinou aos pastorinhos, uma oração evocativa da identidade Daquele que se iria revelar mais tarde por intermédio da Sua mãe, a rainha do Céu, da Terra e de Portugal.

adoro-Vos profundamente – Adorar significa submeter-se; ao adorar a Deus, todo o meu ser se submete a Ele pelo que nada há em mim que se oponha à sua vontade e aos desígnios.  É uma adoração profunda, porque brota desde as raízes do meu ser onde reconheço a minha origem em Deus, como diz o salmo 87 “todas as minhas fontes estão em ti”

e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, / Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, / presente em todos os sacrários da terra – Não se trata de recordar a Deus o ato salvífico de Cristo, ou seja, dar a vida pelos seus amigos. É o reavivar a nossa memória, pois, tal como o povo Judeu no deserto, a nossa tendência é esquecer rapidamente os prodígios e as maravilhas que o Senhor fez por nós. O sacrário é o sacramento, o recordatório das graças recebidas assim como o reservatório de graças a receber se a Ele aderimos. É, portanto, esta oração uma exortação à comunhão do corpo e Sangue do Senhor assim como à adoração eucarística

em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças / com que Ele mesmo é ofendido. – Esta adoração eucarística faz ecoar em nós e no mundo inteiro aquele supremo ato de amor de Deus pela humanidade há dois mil anos. Que o nosso amor e firme adesão ao mistério salvífico de Cristo contrabalance os ultrajes e os sacrilégios que são manifestações de ódio, dos inimigos de Cristo.

Mas pior que isto é a indiferença, a falta de amor o ignorar. Dizem que a indiferença é bem pior que o ódio. Esta indiferença é manifestada nos tempos pós-modernos pela nova forma de ateísmo chamada agnosticismo: o não querer saber, o não se importar, o “tanto se me dá como se me dê”, o viver como se Deus não existisse, o ser, o estar e viver alheio ao Seu amor por nós, o votar-lhe as costas. Quem odeia já amou e pode voltar a amar, mas o indiferente nunca amou e pode nunca vir a amar,

E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração / e do Coração Imaculado de Maria, / peço-Vos a conversão dos pobres pecadores. – Ao recordar os méritos de Cristo e de Maria sua mãe recordamos a nossa falta de mérito pela qual, como já na primeira oração ensinada pelo anjo, pedimos a conversão dos pecadores e o perdão pela falta do nosso compromisso para com esta conversão.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de setembro de 2017

Fátima: A terceira parte do Segredo à luz da profecia de Jonas

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Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado coração triunfará” Aparição de 13 de julho de 1917.

O conteúdo da terceira parte do segredo, que, por décadas, manteve o mundo em “suspense”, era, de alguma forma já conhecido, pois estava implícito nas palavras da Senhora acerca da Rússia. Era, portanto, como aqueles tesouros bem escondidos por estarem onde as pessoas menos esperam que estejam.

O terceiro segredo, como se lhe chamou, é a terceira parte de um único segredo, e não é se não uma ilustração simbólica das palavras da Nossa Senhora, para o caso de a Rússia não ser consagrada ao seu Imaculado Coração. Tudo o que o segredo diz aconteceu, até ao dia em que de facto a Rússia foi consagrada.

A profecia de Jonas
Como o segredo de Fátima era fundamentalmente uma profecia, qualquer profeta do Antigo Testamento pode oferecer-nos uma chave de leitura hermenêutica. Entre todos os profetas escolhemos Jonas porque este, mais que os outros, é um claro exemplo do que em essência é uma profecia, e que função cumpre dentro da palavra revelada.

Como sabemos, depois de alguma relutância e até manifesta oposição, Jonas foi enviado por Deus a Nínive com a profecia de que a cidade seria arrasada se não se convertessem e fizessem penitência. Como a destruição da cidade era precisamente o que Jonas queria, podemos imaginar a pouca convicção com que pregou durante os três dias que levou a atravessar a cidade. Contra todas expectativas a cidade converteu-se e não foi destruída.

A profecia de Fátima
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! Primeira cena da terceira parte do segredo

Examinemos agora cada uma das imagens que compõem a terceira parte da profecia:

O Anjo de espada flamejante em riste – Representa o juízo final, a possibilidade de condenar-se no caso de não se converter. Como a espada suspensa de Damocles, é uma fatalidade que pode acontecer. Faz recordar o discurso de Josué no livro do Deuteronómio (30, 15) ponho ante ti a vida e a felicidade e a morte e a condenação. A possibilidade de reduzir o mundo a um monte de cinzas já não é ficção, mas pura realidade. Como hoje o homem é senhor do seu destino, é ele, portanto, que forjou a mais destruidora espada flamejante a bomba atómica.

Penitência, Penitência, Penitência! - O sentido da visão não é mostrar o que irremediavelmente vai acontecer no futuro, mas sim o que pode acontecer, e os meios para que não aconteça, é um alerta. Se o intuito desta profecia fosse revelar o destino irreversível do mundo, não faria qualquer sentido que o anjo gritasse penitência três vezes, no sentido de evitar a catástrofe. Nem faria sentido esta ou qualquer profecia se não houvesse forma de evitar o destino. Ninguém tem interesse em saber nem o dia, nem a hora, nem a forma como vai morrer; e Deus seria sadista se o revelasse.

Ao lado esquerdo de Nossa Senhora – A visão mostra-nos o poder oposto à destruição, representada na imagem esplendorosa da Virgem Maria à direita do Anjo. Representando, portanto, o anjo de espada em riste a morte, e Nossa Senhora a vida, a visão apela à nossa liberdade. Ou seja, o que vamos ver na cena seguinte, não é a irreversibilidade de um futuro que não pode ser mudado e vai acontecer tal qual está descrito, mas sim o contrário a imagem de um futuro que pode ser evitado e, portanto, não acontecer se fizermos o que nos aconselha o anjo.

O propósito da visão não é mostrar em filme um futuro irrevocavelmente fixo, mas ao contrário, orientar, iluminar e guiar a nossa liberdade e as nossas energias e recursos no sentido oposto e evitar a catástrofe. Tal como a pregação da destruição da cidade de Nínive levou os seus habitantes a fazer penitência, o mesmo pretende esta visão.

E vimos n'uma luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho;

chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Segunda cena da terceira parte do segredo

A cidade representa a história humana, a montanha, o caminho ascendente para a cruz, redenção para toda a humanidade. O Santo Padre, bispos sacerdotes, religiosos e religiosas e pessoas seculares, subindo uma montanha representam a Igreja na história da humanidade, no seu caminho ascendente para o Céu.  A história da salvação inserida na história da humanidade.

Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. – É uma clara referencia ao livro do Apocalipse, 7, 14 os que vêm da grande tribulação, lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro. Salvam-se todos os que são regados pelo sangue dos mártires, em tanto em quanto que este sangue, como sempre se disse, é semente de cristãos.

Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho - O caminhar pela história em direção a Cristo, representado pela cruz, é lento, e pelo caminho alguns vão caindo vítimas do mal. Em particular, a visão representa a via sacra de um século de perseguição e morte, que o nazismo, o fascismo e em especial o ateísmo militante moveram aos crentes. Nesta visão o papa é alvejado e morto como muitos mártires.

Quando, após a tentativa de assassínio em 13 de maio de 1981, o Papa João Paulo II na sua cama de convalescença no policlínico Gemelli pediu que lhe trouxessem o texto do segredo, era inevitável que ele não visse nele o seu destino, e um futuro que não aconteceu por um triz. E não aconteceu porque Maria não o quis; nas palavras do papa ela desviou a bala que passou a poucos milímetros de órgão vitais. Mais uma vez fica claro que o futuro não é imutável, e que a fé, a penitência e a oração podem influenciar a história, e que em definitiva a oração é mais poderosa que as balas e a fé, que move montanhas, mais poderosa que o poder destrutivo dos exércitos.

Podemos agora compreender a aflição da pobre Jacinta, que viu tudo isto sem saber qual seria o desfecho final. De certo ela fez o que o anjo, na mesma visão, a todos aconselha, penitencia e oração. De alguma maneira também ela sabia que este futuro tão negro, até mesmo a morte do papa que na visão se dá como certa, podia ser evitada com a sua oração e penitência pessoais; esta a razão pela qual nunca cessou de rezar pela Santo Padre. Se Jacinta tivesse a certeza de que o futuro, visto na visão, não podia ser evitado não teria rezado pelo papa como o fez o resto da sua vida.

Num encontro que a irmã Lúcia teve, no dia 27 de abril de 2000, com o Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, aquela refere que concorda plenamente com esta interpretação oficial da Igreja, segundo a qual, a terceira parte do segredo consiste numa visão profética, comparável a outras da bíblia, cujo conteúdo consiste na perseguição movida, à Igreja e aos crentes, pelo ateísmo militante inspirado e promovido pela Rússia durante o século XX.

Também concorda com a interpretação pessoal do Papa João Paulo II: Foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da morte. Continua a Lúcia: Não sabíamos o nome do Papa, Nossa Senhora não nos disse o nome do Papa. Não sabíamos se era Bento XV, Pio XII, Paulo VI ou João Paulo II, mas que era o Papa que sofria e isso fazia-nos sofrer a nós também… em especial a Jacinta que dizia muitas vezes: Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por Ele.

Já, mas ainda não…
Os acontecimentos, aos quais se refere a terceira parte do segredo, parecem ser agora parte do passado. Cardeal Sodano

O Reino dos céus está já presente no meio de nós, mas ainda não na sua plenitude, diz a teologia com respeito ao Reino de Deus e à sua presença na história da humanidade. Inspirados no Cardeal Sodano, assim como no então perfeito da Sagrada Congregação para a Fé, o Cardeal Ratzinger, podemos dizer que, por um lado, e contrariamente aos profetas da desgraça amantes de apocalipses e teorias da conspiração, esta terceira parte do segredo tal como as duas primeiras, é história.

Por outro lado, ao contrário, das duas primeiras partes do segredo, que visavam coisas concretas que não podem voltar a acontecer, a terceira parte do segredo é menos concreta e totalmente concretizável no tempo e no espaço e parece apelar a um arquétipo que se tem repetido, continuamente se repete e pode repetir; o anjo de espada flamejante está ainda aí; a liberdade humana exortada a escolher entre o caminho do bem e da vida, o mal e a morte sempre estará aí; a Igreja caminhante num mundo adverso e o martírio de alguns dos seus membros é uma realidade que se repte em todo o tempo e lugar.

Por fim, o meu Imaculado coração triunfará …
Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» João 16, 33

Um coração aberto a Deus, purificado pela penitência e oração, é mais forte que as armas e os exércitos de toda a espécie; Foi o coração de Maria purificado do pecado original no momento da sua conceição, e comprometido na anunciação do anjo com o projeto de salvação de Deus, que trouxe o redentor à humanidade. A semente desse Reino já está presente no meio de nós desde a vinda de Cristo à dois mil anos. Quando o nosso coração é purificado como o de Maria, também nós damos à luz a Cristo no nosso ser na nossa forma de viver e atuar, e desta feita fazemo-lo presente no nosso tempo e lugar, com toda a sua potência de saúde, paz e amor entre os homens.
Pe. Jorge Amaro, IMC