15 de junho de 2017

Fátima: Jacinta a Reparadora

Perfil humano
Jacinta de Jesus Marto nasceu a 11 de março de 1910. Como Francisco, tinha o rosto redondo e feições duma regularidade perfeita; boca pequena, lábios finos, mento breve, corpinho bem proporcionado. «Não era, contudo, tão cheia como o Francisco - diz-nos a mãe.

Era muito vaidosa, gostava de se vestir bem, andava sempre bem penteada e colocava flores no cabelo. Como a prima gostava de dançar ao toque do pífaro do seu irmão Francisco. Divertia-se nos jogos e ao contrario do seu irmão tinha mau perder. Muito centrada em si mesma, era ela que tinha que escolher os jogos ou os castigos, e nisso era intransigente.

Por outro lado, não era um espírito livre e independente como a sua prima Lúcia. Era mais dependente e nesse sentido vivia encostada à sua prima com quem tinha uma amizade invulgar, nada fazia sozinha, um dia sem Lúcia era um dia triste e sem sentido.

Moralmente era irreprochável, como o seu irmão tinha sido formada e formatada para nunca mentir; chegou a repreender a mãe quando esta dizia alguma mentira piedosa. Então a mãe mentiu-me? Disse que ia aqui e foi para acolá? ... Isso de mentir é feio! Se não queria dizer a verdade calava-se e não havia ninguém que lhe arrancasse uma palavra. Um dia em que a Lúcia cansada de tantos interrogatórios se escondeu, os visitantes perguntaram a Jacinta pelo seu paradeiro; esta para não mentir calou-se:  que é que respondeste quando te perguntaram por mim? perguntou a Lúcia, - Calei-me bem caladinha! Porque eu sabia onde tu estavas e mentir é pecado.

O aspeto mais importante e mais vincado na sua personalidade é a sensibilidade; Jacinta era tão sensível que até parecia de porcelana; emocionava-se muito facilmente tinha o coração nas mãos. Já aos 5 anos, pedia uma e outra vez que a sua prima lhe contasse a história da Paixão do Senhor; ao ouvir narrar os sofrimentos do Nosso Divino Redentor - diz-nos a Lúcia - enternecia-se e chorava muito, e em pranto dizia – “Coitadinho de Nosso Senhor - repetia - eu não hei-de fazer nunca nenhum pecado; não quero que Jesus sofra mais.  (…)

Muitas vezes dizia, Gosto tanto de dizer a Jesus que o amo! Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho lume no peito, mas não me queimo. (…) gosto tanto de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, que nunca me canso de lhes dizer que Os amo. repetia muitas vezes. Jacinta possuía uma alma requintada, cheia de finíssimos sentimentos, dizia o pai dela.

Amava as ovelhas e designava a cada uma delas pelo seu nome. Havia a pomba, a estrela, a mansa, a branquinha - os nomes mais lindos do seu vocabulário. Os cordeiritos brancos eram o seu enlevo.
«Sentava-se com eles ao colo - diz a Lúcia - abraçava-os, beijava-os e, à noite, trazia-os ao colo para casa, para que não se cansassem e para fazer como o Bom Pastor que ela tinha visto numa pequena estampa que lhe tinha sido oferecida».

Jacinta no Eneagrama
Com uma mensagem para todo género humano, Maria apareceu em Fátima a três crianças que representam essa humanidade; uma humanidade incompleta que perscruta e se relaciona com a realidade e os outros desde um prisma redutivo e redutor. Lúcia era claramente cerebral; a memoria e a inteligência é o seu forte. Francisco é visceral instintivo não se dedica muito ao pensamento vive da visão da perceção e da contemplação; para ele poucas coisas importam. Jacinta é sentimental, toda ela é emoção sensibilidade.

Que numero poderia ela ser? Um dois não pois tem uma personalidade básica bastante egocêntrica, não própria do 2; um três também não porque não parece buscar o sucesso nem ser pragmática; a meu ver Jacinta no Eneagrama é um 4.

Lúcia conhece a Jacinta mais que ninguém e descreve-a, de facto como sendo bastante egocêntrica absorvida por si mesma. De facto, como adiante veremos, a conversão de Jacinta vem na descentralização da sua vida quando se dá conta que o centro da sua vida não é ela, mas Ele o Jesus que sofre e que precisa de ser reparado. Então entende: quem me queira seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.

Como os 4, Jacinta é exageradamente sentimental trágica e romântica; sonhadora individualista; de gosto requintado pelo estético, como acima fica manifestado na sua a relação com os cordeirinhos imitando a Jesus o bom pastor; como todos os 4 foge do ordinário. Jacinta não acompanhava mais ninguém a não ser a sua querida Lúcia, porque achava as outras crianças groseiras que diziam asneiras, ordinárias; odiava a falta de integridade. Em casa, ela preferia a companhia de seu pacífico irmão Francisco e evitando, a qualquer custo, a companhia de seu irmão mais velho, João.

Outra caraterística dos 4 que encontramos na Jacinta, o medo de ficar sozinha e abandonada como manifestou quando esteve na prisão de Ourém e a sua ida para o hospital da Dona Estefânia em Lisboa onde ela vinca e sublinha que vai morrer sozinha, coisa que ele sublinha com trágicas e dramáticas conotações, próprio dos quatro no eneagrama.

le coeur a ses raisons que la raison ne connaît pas – O coração tem as suas razões que a razão desconhece. Depois do encontro com o pároco Lúcia que, como a sua mãe, o tinha como homem santo e de respeito, por ser cerebral e racional, começou a duvidar de si mesma e da sua perceção; talvez o pároco tivesse razão e as aparições fossem mesmo coisas do demónio. Jacinta, porem, como via e conhecia com o coração, opôs-se à Lúcia e defendeu convictamente a veracidade das aparições.

Como o pároco colocou o demónio na cabeça de Lúcia, esta chegou a sonhar e ter pesadelos com ele, num dos sonhos via o diabo arrastando-a para o inferno e rindo-se dela. Chegado o dia 13 de julho negou-se a ir à Cova da Iria, os primos choravam e imploravam que fosse pois eles não queriam ir sozinhos; Jacinta sobretudo dizia que tinha pena de Nossa Senhora, que iria ficar desgostada com eles. Ao chegar o meio-dia hora das aparições, como por milagre os medos da Lúcia dissiparam-se e lá foi ela com os primos em direção à Cova da Iria, passando por milhares de pessoas que já para lá se dirigiam.

Jacinta a reparadora
"Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações e que o Amor é tudo!... então, num transporte de alegria delirante, exclamei: encontrei finalmente a minha vocação, a minha vocação é o Amor! No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor, assim serei tudo, assim o meu sonho será realizado."  Sta. Teresa do menino Jesus

Gosto tanto de sofrer por amor de Nosso Senhor e de Nossa Senhora! Eles gostam muito de quem sofre para converter os pecadores. Jacinta

Se a pequena Jacinta tivesse conhecido a Santa Teresa do menino Jesus, de certo se reveria e identificaria com ela. Dissemos que cada pastorinho encarna na sua vida e na história da sua conversão um aspeto da mensagem de Fátima. Se Francisco encarna o amor, pela oração e pela consolação do Senhor ao passar tempos infinitos com Ele, Jacinta é o coração da mensagem de Fátima.

Dos três, é a que mais empatia tem pelos corações dilacerados de Jesus e de Maria pelos ultrajes e pecados com que são ofendidos. Desde o momento em que se dá conta dos corações quebrados de Jesus e de Maria, Jacinta oferece-se a emenda-los com a cola do seu amor. O amor é de facto a única cola que pode unir os humanos entre si e com Deus, e reparar os corações, fendidos e ofendidos.

“Quem se obriga a amar, obriga-se a padecer” – Ou como diz Jesus “Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos” . Jacinta apercebe-se muito bem disto e por isso aceita alegremente todos os sofrimentos que se lhe apresentam para reparar o coração ofendido do Senhor.

Assim quando chorava na prisão de Ourém com saudades dos seus pais, bastava a sugestão dos outros dois a que oferecesse esse sacrifício para imediatamente enxugar as lágrimas e alegremente e com certo prazer oferecer o sacrifício. Chegava a dizer Jesus deve estar contente comigo pois custou-me um bocadinho.

Quando já ela e Francisco estavam doentes de cama, chamou com urgência a Lúcia para lhe dizer: Olha, Lúcia - dizia-lhe a Jacinta toda alvoraçada - Nossa Senhora veio-nos ver e disse que vinha buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim perguntou-me se ainda queria converter mais pecadores (por meio do sofrimento). Eu disse-lhe que sim. Agora, dizia ela a Jesus, podes converter muitos pecadores, porque sofro muito! Dizia ela num desabafo a Jesus depois da operação a sangue frio.

Só Deus sabe o que ela sofreu no hospital de Ourem onde foi operada sem anestesia; só Deus sabe o que sofreu com a ferida aberta no peito que já deitava pus. E, no entanto, o seu corpo foi encontrado incorrupto quando o corpo foi exumado em 1935 para a causa da beatificação.

Com a sua morte na cruz, Cristo restaurou o género humano, e reparou a nossa união com o Pai. Jacinta que gostava de imitar a Jesus bom pastor no meio do rebanho, levando aos ombros a ovelha perdida, acabou por imita-lo nos três anos de duração da sua vida publica, nos sofrimentos da sua paixão e na solidão da sua agonia e morte. três anos depois das aparições, Jacinta morreu sozinha no hospital com uma ferida aberta no peito tal como Jesus.

Na sua curta vida, Jacinta não só imitou a Cristo bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, mas imitou também a Cristo como cordeiro imolado que tira os pecados do mundo pois a conversão dos pecadores era a única motivação do seu sofrimento e da sua curta vida. E parafraseando um soneto de Camões, mais serviria ela se para tão longo amor tão curta a sua vida. Faleceu três anos depois das aparições o dia 20 de fevereiro de 1920 com 10 anos de idade.
Pe. Jorge Amaro, IMC



2 comentários:

  1. Fica-se deslumbrada com tão lindo texto...parabéns como descreve o perfil de Jacinta....feliz dia Santo

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  2. Muitos parabéns pela riquíssima partilha caro amigo Jorge ,um grande abraço muitas felicidades

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