15 de abril de 2017

Fátima: Coincidência ou Providência?

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“Kairós” – O momento oportuno
Inspirado num texto publicado por Vittorio Messori, a 14 de dezembro de 2011, no jornal italiano Corriere della Sera, dei-me conta que Fátima é protagonista de inúmeras coincidências, ligadas à sua mensagem e significado para o mundo, durante o século XX. Os menos crentes chamar-lhe-ão meras coincidências; mas, mesmo entre os não crentes, são cada vez mais aqueles que afirmam que nada acontece por acaso, uma frase que com muita frequência vemos no Facebook, aplicada a mil e uma situações existenciais.

Para aquilo que de bom acontece, e não tem explicação plausível, os não crentes chamam-lhe sorte; ao contrário, para o que de mal acontece chamam-lhe azar. O sinónimo de sorte ou azar, para os crentes, é Providência. Os crentes não perdem a cabeça em tempos de sorte, nem se desesperam em tempos de azar, pois sabem que “não há mal que sempre dure nem bem que sempre ature”.

Se até os cabelos da nossa cabeça estão contados, como diz o Evangelho, tudo é Providência divina. Ou seja, tudo o que acontece, de bom ou de mau, é querido ou permitido por Deus, “que escreve direito por linhas tortas”. E para aquele que põe a sua confiança e segurança em Deus, “Não há males que por bem não venham”.

O sim da Igreja a Fátima
O processo eclesiástico, que, para além dos interrogatórios do pároco de Fátima, o Pe. Manuel Marques Ferreira, e do Cónego Manuel Nunes Formigão, constou de uma comissão que instaurou um inquérito canónico oficial para averiguar a veracidade das aparições.

A comissão começou os seus trabalhos no dia 13 de maio de 1922, 5 anos depois do começo das aparições, e acabou no dia 13 de outubro de 1930, exatamente 13 anos depois do encerramento das aparições. Nesse dia, com o conhecimento e aprovação do Papa Pio XI, o então Bispo de Leiria, D. José Correia da Silva, anunciou o resultado da investigação permitindo, oficialmente, o culto a Nossa Senhora de Fátima.

Fátima e os papas
Em plena I Guerra Mundial, a 5 de maio de 1917, o Papa Bento XV exortou a todos os cristãos que pedissem a intercessão de Maria para obter a “aspirada paz para o mundo desvairado”. Tão só 8 dias depois, Maria aparece em Fátima com o seu plano para a paz mundial. Um ano mais tarde, em 1918, o mesmo papa, em carta dirigida aos bispos portugueses para restabelecer a diocese de Leiria, à qual pertenciam os videntes, referiu-se às ocorrências de Fátima como "uma ajuda extraordinária da Mãe de Deus."

No mesmo dia em que a Nossa Senhora apareceu em Fátima pela primeira vez, a 13 de maio de 1917, era ordenado Bispo o Padre Pacelli, mais tarde eleito papa com o nome de Pio XII. Vinte cinco anos mais tarde, quando celebrou o seu jubileu de prata, viu nesta coincidência os secretos desígnios da Providência.

Apesar de não o conhecer pessoalmente, Jacinta amava muito o Santo Padre e por ele rezava todos os dias; numa das suas visões, viu-o muito angustiado, a rezar. Gostava tanto dele, e era tanto o desejo de o ver que, ao observar como tanta gente acorria à Cova da Iria, durante as aparições e depois delas, na sua simplicidade e singeleza, chegou a afirmar: “Vem tanta gente aqui só o Santo Padre é que não vem!”.

Não veio, de facto, durante a sua curta vida, mas veio durante a vida da sua prima. Paulo VI celebrou o cinquentenário das aparições e encontrou-se com a irmã Lúcia, a qual faleceu no dia 13 de fevereiro de 2005. Mas, antes de falecer, 5 anos antes, em a 13 de maio de 2000, assistiu à beatificação dos seus primos Francisco e Jacinta. O então papa, João Paulo II, recordou nesse dia as palavras de Jacinta e agradeceu-lhe o seu amor e as suas muitas orações e sacrifícios pelo papa, quando ele ainda nem tinha nascido.

Atentado do Papa João Paulo II
No mesmo dia e na mesma hora em que o papa João Paulo II foi baleado, a 13 de maio de 1981, 64 anos antes, aparecia a Nossa Senhora em Fátima. Não é segredo para ninguém que a bala foi disparada pela União Soviética, pelo apoio que o papa dava à organização sindical “Solidariedade”, que, na altura, atuava como um cavalo de Tróia dentro do Império Soviético, e que acabaria por ser a sua ruína. Não foi a União Soviética que prevaleceu, mas a Nossa Senhora de Fátima que, milagrosamente, desviou a bala, no entender do papa.

Das três balas disparadas contra o papa João Paulo II, duas não provocaram lesões graves. Os estragos causados pelo terceiro projétil foram bem maiores. A bala perfurou o abdómem do papa, atingiu o intestino grosso e o intestino delgado, resvalou pelo osso sacro - a penúltima parte da coluna vertebral - e saiu pelas costas.

Nesse percurso, a bala passou a providenciais centímetros de órgãos vitais, em especial a artéria aorta. Se essa artéria fosse atingida, é improvável que Karol Wojtyla sobrevivesse à corrida entre a Praça de São Pedro e o Policlinico Agostino Gemelli, onde chegou abalado por uma intensa hemorragia, prontamente neutralizada por uma transfusão de 3 litros de sangue e uma cirurgia que consumiu cinco horas e meia.

João Paulo II que, até aquele momento, apesar de amante fervoroso de Maria, à qual se referia o seu moto “Totus Tuus”, ainda não tinha manifestado grande interesse por Fátima, acabou por visitá-la um ano depois, em 1982, para agradecer a Maria que o tinha protegido. João Paulo II visitou duas vezes mais Fátima, porque se deu conta que ele era o papa do segredo; o segredo que os seus antecessores leram e mantiveram guardado.

O papa João XXIII ficou tão sensibilizado com ele que o manteve sempre no seu quarto de dormir, mesmo depois de ter afirmado estar convencido de que o segredo não se referia nem a ele nem ao seu pontificado.

O conhecimento que os pastorinhos tinham do seu futuro
Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Aparição do dia 13 de junho

Logo na segunda aparição, anos antes, quando ainda gozavam de perfeita saúde, os pastorinhos já conheciam o que os esperava: que Francisco e Jacinta em breve morreriam e que a Lúcia ficaria ainda por mais um tempo, para ser testemunha da mensagem de Fátima e propagar a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

Mais ainda, em aparições privadas da Nossa Senhora, a Jacinta soube, com antecedência, tudo sobre as circunstâncias da sua morte: o dia e a hora; que iria para dois hospitais, para sofrer mais, mas não se curaria; que, para o hospital de Lisboa, seria acompanhada pela sua mãe, que a deixaria lá sozinha; o que mais a torturava foi o saber que nunca mais iria ver a sua querida amiga Lúcia e morreria sozinha.

Coroa de glória e coroa de espinhos
A coroa da Nossa Senhora de Fátima é de ouro puro, pesa 1200 gramas e está adornada com 950 diamantes, 313 pérolas, uma esmeralda grande, 13 esmeraldas pequenas, 33 safiras, 17 rubis, 260 turquesas, uma ametista e quatro águas-marinhas. Estas jóias foram oferecidas por centenas de portuguesas, para agradecer o facto de Portugal não ter entrado na Segunda Guerra Mundial.

Quando o papa João Paulo II doou a bala para ser colocada na coroa, em primeira análise não sabiam onde colocá-la; foi, por isso, com surpresa, que a joalharia que fez a coroa de Nossa Senhora de Fátima, em 1942, descobriu que a bala que atingiu João Paulo II tinha precisamente o mesmo diâmetro da anilha que une as hastes do diadema; aí foi, portanto, colocado o projétil, quase meio século depois; quando a coroa foi feita ela já continha, naquele momento presente, o lugar do futuro.

A suntuosa coroa, fruto do trabalho e do amor dos Portugueses por Maria, estava incompleta; faltava-lhe ainda uma pérola, a bala que atingiu o papa, e, providencialmente, o lugar que esta iria ocupar esteve sempre lá à sua espera. Ao ser colocada no seu lugar, a coroa de glória passa a ser também a coroa de espinhos e, assim, condiz mais com a vida da Nossa Senhora e com a vida à qual todo o cristão está chamado, à glória pela via da cruz, do sofrimento, representado na bala.

Fátima e Rússia
Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. 13 de julho 1917.

Três meses depois de a Nossa Senhora ter dito isto aos pastorinhos, Lenine faz-se com o poder na Rússia e começa a revolução bolchevique, que iria aniquilar as nações vizinhas, transformando-as, com a Rússia, na grande nova Babilónia, a União Soviética.

Quantos exércitos tem o papa?” – perguntou, no seu tempo, Estaline, para ridiculizar o potencial político e militar do Vaticano. A história demonstrou que quem se ri no fim ri-se melhor, o poder espiritual é bem mais potente que o militar, pois o ser humano é, ante tudo, espiritual e os motivos espirituais, até mesmo negativamente, como força motriz de comportamento, são sempre mais fortes que a ganância e todos os outros motivos mundanos e terrenos.

Por fim, (disse Maria em Fátima) o meu Coração Imaculado triunfará, com efeito, no fim o sentimento religioso, a crença em Deus, triunfou sobre o ateísmo iluminista e racionalista; a fé triunfou sobre a razão, tanto na Rússia, como em Portugal e no mundo inteiro.

Isto mesmo disse, a 10 de maio de 1985, numa visita a Portugal, o presidente norte-americano Ronald Reagan, de certo inspirado por Deus, afirmou: “Atrevo-me a sugerir que é no exemplo de homens como ele (referindo-se ao Papa João Paulo II) e nas orações de pessoas de todo o mundo – pessoas humildes como os pastorinhos de Fátima – que reside um poder maior de que todos os grandes exércitos e estadistas do mundo”. Dois anos depois, era assinado o primeiro tratado de desarme nuclear entre os Estados Unidos e a URSS.

O Azul de Maria prevalece sobre o vermelho
Retirada do Exército vermelho da Áustria - O dia 13 de maio 1955 – Depois de longos 10 anos de campanha, promovida pelo sacerdote Franciscano Petrus Pavlicek, que constava em inúmeras e constantes procissões e a reza do rosário em público um pouco por todo o país, sobretudo em Viena. Ante este protesto silencioso, pacífico, mas proactivo, dos austríacos, a Rússia retirou-se da Áustria, que tinha ocupado desde 1945.

A bandeira da Comunidade Europeia - A 8 de dezembro do mesmo ano, 1955, também, na festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria, foi eleita como a bandeira do Conselho da Europa, a que hoje representa a União Europeia. Azul é a cor da Virgem Maria e as estrelas são aquelas que rodeiam a cabeça da mulher do Apocalipse, em que a tradição reconhece Maria.

O fim da União Soviética - Por fim, no mesmo dia 8 de dezembro de 1991, na mesma festa da Imaculada Conceição, 74 anos depois de Maria ter dito em Fátima que, por fim, o seu Imaculado Coração triunfaria, a Rússia, a Ucrânia e a Bielorrússia assinaram um documento que punha fim à União Soviética. Na noite de Natal desse ano, a bandeira vermelha, com a foice e o martelo, foi retirada para sempre da cúpula mais alta do Kremlin e, em seu lugar, foi hasteada a bandeira tricolor do Império de Pedro, o Grande.

Consagração da Rússia ao Imaculado Coração - Uma das petições de Maria, ou condições para que a Rússia se convertesse, foi que o papa a consagrasse ao seu Imaculado Coração. Depois de inúmeras consagrações incompletas, desde o Papa Pio XII, em que o nome Rússia nunca era nomeado, finalmente o Papa João Paulo II, no dia 25 de março de 1984, fez uma consagração que encontrou aceitação perante a vidente Lúcia.

Dois anos depois subia ao poder Mikhail Gorbatchov, que iniciou uma série de reformas sociais e políticas, uma das quais acabava de vez com a perseguição religiosa e o ateísmo militante. A estas reformas ele mesmo deu o nome de Perestroika, conversão em russo.

O muro de Berlim - O muro que durante anos dividiu as duas Alemanhas começou a ser construído pela Republica Democrática da Alemanha, no dia 13 de agosto de 1961. A sua demolição começou, oficialmente, no dia 13 de junho de 1990 e foi completada dois anos depois.

Não poucas são as coincidências entre Fátima e vários factos históricos que aconteceram no passado século XX. Quando são muitas casualidades, e quando todas elas apontam na mesma direcção, não pode não haver uma intenção deliberada. Em Fátima e por meio de Fátima, a Divina Providência interveio no século mais belicoso da história da humanidade.
Pe. Jorge Amaro, IMC


1 de abril de 2017

Fátima: Intervenção Sociopolítica

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Fátima é o maior acontecimento religioso da primeira metade do século XX, uma explosão transbordante do sobrenatural neste mundo enleado na matéria. Paul Claudel – Poeta Francês, dramaturgo e diplomata

Fátima - a mais política de todas as aparições marianas. Clodovis Boff – Teólogo, filósofo e professor

A pintura e a escultura, ao longo dos tempos, têm-nos habituado a uma imagem estereotipada de Maria como “humilde serva de Sião”, passiva, de rosto sereno e calmo, que, em vez de falar abertamente e expressar os seus pensamentos e sentimentos, guarda as coisas no seu coração (Lucas 2, 19). Não negamos que tudo isto seja verdade, mas é só uma faceta da sua personalidade.

Não sei por que razão, ao largo dos séculos, a outra cara de Maria nunca foi pintada nem esculpida; a mulher do Magnificat que, a plenos pulmões, cheia de energia, quase contradizendo o paradigma antes descrito, proclama: “manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.” Lucas 1. 51-53

Maria pro ativa – Quando recito estes versos, a imagem que me surge na mente tem mais parecido com a Padeira de Aljubarrota ou com a mulher de peito nu, empunhando a bandeira diante das tropas da tomada da Bastilha, que aquela a que a Igreja nos tem habituado. Admito a exageração, sobretudo por causa do elemento violento implícito nas duas imagens da minha fantasia; mas também há exagero na figura estereotipada, pelo que a verdade seja um misto das duas figuras. Uma Maria, obviamente não agressiva, mas mais proativa que passiva.

Sendo a aparição de Nossa Senhora em Fátima, a mais política de todas as aparições, como diz Boff, até para verificar a autenticidade das aparições de Fátima, era mister encontrar alguma manifestação política na figura bíblica de Maria. Pelo Magnificat podemos concluir que Fátima não foi a primeira vez que Maria “se meteu na política”. Assim sendo, a mensagem de Fátima é verdadeiramente revolucionária ao estilo do Magnificat, e revela-nos a outra cara de Maria, a da intervenção sociopolítica, como pré-anúncio do Reino de Deus que o Seu filho veio trazer ao mundo.

Em Fátima, Maria, mãe da Igreja, mãe da vida, visita os seus filhos com uma mensagem de vida e de paz, para um mundo imerso na guerra, na morte genocida e ideológica; vem anunciar que Deus continua vivo e bem vivo, a todos aqueles que o proclamaram morto, como o filósofo Nietzsche no materialismo ideológico e histórico, assim como no ateísmo militante que, partindo da Rússia, se alastrou pelo mundo inteiro.

Em Fátima, Maria visita o seu povo como outrora visitou a sua prima Isabel; pede aos pastorinhos que se ofereçam e participem com Deus no projeto de salvação do mundo, vítima de si mesmo, do seu racionalismo e niilismo cruel e sem coração, que causou os horrores da guerra e a crueldade da tortura e o irracionalismo das perseguições e genocídios étnicos e religiosos do século XX. E, a título de esperança, para consolar os seus filhos nas horas amargas, deu-lhes a certeza de que, no fim, o seu coração imaculado triunfaria.

(…) coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal. Deuteronómio 30, 15. Tal como Moisés, Maria, em Fátima, coloca lado a lado a esperança e a ameaça, a salvação e a ruina, a promessa e o aviso, a graça e o juízo e, ainda tal como Moisés, insta-nos a optar pelo bem e pelo caminho do Evangelho para sair dos horrores nos quais o mundo se tinha metido.

O contexto histórico e social das aparições
 As duas guerras mundiais – Na primeira guerra mundial morreram cerca de 12 milhões de pessoas, na segunda 60 milhões. Nunca nenhuma guerra anterior tinha dizimado tantas vidas, se pensamos também no número de feridos, que duplica estes números e dos quais muitos ficaram deficientes o resto da vida.

Os totalitarismos, Nazista, Fascista e Comunista, com os seus genocídios, limpezas ideológicas étnicas e religiosas – Aos mortos na guerra, somamos os milhões de vítimas dos regimes totalitaristas que, a escala nunca antes vista, praticaram limpezas étnicas, como o extermínio dos Judeus nos campos de concentração nazis, as limpezas ideológicas comunistas praticadas nos Gulags siberianos e os torturados e desaparecidos dos fascismos europeus e latino-americanos.

O ateísmo militante comunista e a perseguição religiosa – na antiga União Soviética e países satélites pertencentes ao Pacto de Varsóvia; China, Cuba, onde ainda não existe liberdade religiosa, e os vários países africanos comunistas de orientação chinesa ou soviética, durante décadas, o ateísmo militante impôs-se, perseguindo os que se manifestavam religiosos. Segundo Eloy Bueno, no seu livro a Mensagem de Fátima, o número de mártires do século XX acende a 26.685.000

O armamento nuclear e a guerra fria – Com a bomba atómica que os Estados Unidos lançaram sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki, seguiu-se uma escalada de armamento nuclear que fazia uma ameaça constante para a Paz mundial. Ao fim da guerra fria, havia armas nucleares capazes de destruir o mundo, não uma, mas dez vezes.

Neste contexto lúgubre e tenebroso, antes de acabar a primeira guerra mundial, anunciando a segunda como pior que a primeira, deixando antever a possibilidade de uma terceira no segredo, surge Fátima como luz da paz que é possível; como um chamamento à conversão da Rússia, de uma forma especial, por ser responsável do ateísmo ideológico e militante mas, de uma forma geral, de todos os pecadores para os tirar do inferno, não tanto daquele inferno que os pastorinhos viram em visão, mas no inferno em que a vida dos homens se tinha tornado.

"Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho." Marcos 1, 15

“Para grandes males, grandes remédios” - Com a mesma urgência de Jesus no inico da sua pregação, por Maria em Fátima no ano de 1917, Deus intervém, direta e visivelmente, na história humana para reorientá-la para Cristo seu filho. Ajuda e protege os agentes do Evangelho da paz e do bem e pede a três crianças que se ofereçam pela conversão dos pecadores, da Rússia e pela paz no mundo.

A tríade de conversão, penitência e oração é ao mesmo tempo o centro do Evangelho e o núcleo da mensagem de Fátima. Assim sendo, podemos dizer que Fátima ecoa no dramático e negro século XX a mensagem do Evangelho de há dois mil anos.

“O meu Coração Imaculado triunfará”
Fátima em 1917 pode ser vista como o prolongamento de Lourdes em 1958, quando a Nossa Senhora se apresentou a Santa Bernardete como sendo a Imaculada Conceição, dogma que Pio XI proclamara anos antes e que Bernardete desconhecia o significado.

O ser humano é mente e coração, os racionalismos exagerados do seculo XX levaram aos horrores das guerras e genocídios que foram perpetrados por gente sem coração. Deus é Pai e é Mãe, é homem e mulher. Se Jesus representa a Deus como Pai e homem, pois como Ele disse a Filipe, quem me vê a mim vê o Pai, Maria, a mãe de Jesus, representa a Deus como mulher e mãe.

Por isso, a um mundo de excessivo machismo e racionalismo frio e cruel, tinha Deus que enviar uma mulher, Maria, para que as mulheres deixassem de permanecer em casa com a perna quebrada como mães e domésticas e se juntassem aos homens no comando dos destinos políticos do mundo.

Para que trouxessem à politica e à vida social o seu coração sensível e feminino. Pois o coração, como diz Pascal, tem razões que a razão desconhece. E é precisamente a isto que temos vindo a assistir no mundo ocidental e um pouco no resto do mundo, depois da segunda metade do século XX.

O feminino e o masculino são como as duas ases de um pássaro; um pássaro a voar com uma só asa voaria em círculos, e em círculos viciosos de facto tem a humanidade voado até aqui, repetindo os mesmos erros uma e outra vez, de geração em geração. A nossa esperança é que com a mulher ao lado do homem dando o seu contributo em todas as células da atividade humana, o mundo se torne mais humano. O século XX foi um século de demasiado cérebro e demasiado pouco coração. Um mundo mais inclusivo, não só das mulheres, mas também dos homossexuais e outros de certo será um mundo melhor.

O Imaculado Coração de Maria triunfará - Um coração imaculado sempre triunfa; quando a política é feita com coração - com generosidade, compaixão misericórdia, com amor - e não só com a razão. Quando este coração é puro e imaculado, sem a podridão da corrupção, da malícia e do interesse mesquinho e egoísta, então haverá igualdade e paz no mundo quando triunfe o coração sobre a razão e a pureza sobre a corrupção.
Pe. Jorge Amaro, IMC