1 de novembro de 2014

Todo santo teve um passado, todo pecador tem um futuro

Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» (…) Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» (…) Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles. Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu, não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar. João 8 1-11

“Quem não tem pecado que atire a primeira pedra”. Porque todos, de uma forma ou de outra, somos pecadores, a nossa miséria comum, deveria despertar compaixão de uns pelos outros. Pelo contrário, a maior parte das vezes suscita a crítica; uma critica mordaz e hipócrita, porque ninguém está livre de culpa. Jesus aconselha-nos a não julgar para não sermos julgados; adverte ainda que a medida que usarmos com os outros será usada connosco; e também, sobre esta mania nossa de apontar o dedo, diz em tom de repreensão: porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista? Mateus 7, 3.

O olho humano não pode ao mesmo tempo focar ao longe e ao perto; por isso quem abunda na crítica aos outros, ou seja, quem foca ao longe e coloca a sua atenção nos defeitos dos outros, muito provavelmente é deficiente em autocrítica, ou seja, não foca ao perto para os seus próprios defeitos.

Mas porque focamos melhor ao longe que ao perto? E porque sentimos prazer expondo os pecados dos outros para os humilhar? Porque toda humilhação é uma forma indirecta e solapada de auto-exaltação; ao apontar o dedo a alguém, estou a atrair as atenções dos outros sobre mim, e subliminarmente dizendo: “Eu não sou assim” “eu sou melhor”…

Ao contrário do homem, Deus, não quer a morte do pecador mas que se converta e viva (Ezequiel 18,23). Deus, que perdoa e esquece, está mais interessado no nosso presente e no nosso futuro que no nosso passado; acredita nas nossas potencialidades e conhece, melhor do que nós, os nossos talentos pois foi ele que no-los deu e é com base nisso que nos perdoa e nos convida a mudar; o que Deus operou em pecadores como Pedro, Paulo, Agostinho e tantos outros pode operar em nós também. Todos eles tinham um passado de pecado, mas para Deus, o que contava era o seu futuro de santidade.

São Pedro, o covarde
São Pedro, o que chegou a dizer ao seu amigo e mestre, “Eu daria a vida por ti” (Lucas 22,33), quando, confrontado por uma criada, como sendo da companhia de Jesus, negou-o por três vezes chegando a afirmar que nem sequer o conhecia.

São Paulo o cúmplice em assassínios
São Paulo é o exemplo clássico de conversão, que em grego se diz metanóia e que significa mudança de mente ou como dizemos popularmente, “mudar de ideias”. A nossa vida é governada pelos nossos pensamentos ou ideias; muitos destes são preconceituosos e irracionais tornando consequentemente inadequado também o nosso comportamento.

A conversão como metanóia supõe confrontar os pensamentos para os modificar. Há uma teoria de psicoterapia que parte deste princípio. A REBT Terapia racional emotiva e comportamentalista baseia-se no conceito de que as emoções e comportamentos resultam de processos cognitivos; e que é possível para os seres humanos modificar tais processos para atingir diferentes maneiras de sentir e de comportar-se.

No encontro com Cristo, a caminho de Damasco, Saulo mudou de mente, mudou de ideia acerca de Jesus, e se antes perseguia os cristãos, e tinha sido até conivente na execução de muitos (Actos 7, 54-60), agora com a mesma convicção e furor anunciava a Cristo acabando por ser, de entre os apóstolos, quem mais viajou, quem mais sofreu pelo evangelho e quem mais se preocupou em educar e guiar as pequenas comunidades nascentes da sua pregação com cartas que continham as suas meditações e reflexões sobre o mistério de Cristo.

Santo Agostinho, o bom vivant
O grande Santo Agostinho, Bispo de Hipona, que juntamente com Santo Tomás de Aquino são respectivamente o “Platão” e o “Aristóteles” da Teologia católica, não nasceu santo mas sim pecador, como todos nós. Aos 15 e 16 anos levava uma vida de valdevinos; aos 17 entrou em união de facto com uma moça que durou 14 anos; dessa união, que nunca resultou casamento, nasceu um filho que viveu até à adolescência. As incessantes preces e lágrimas da sua mãe, Santa Mónica, levaram um dia o marido e o filho Agostinho à graça da conversão.

Miséria e Misericórdia
Voltando à mulher pecadora; depois de todos abandonarem a sua pretensa autoridade para julgar, ficou só com Jesus; como diz o próprio Sto. Agostinho, ficaram a miséria e a misericórdia: a miséria humana representada pela mulher pecadora a misericórdia divina representada por Jesus.

A resposta de Deus, à miséria humana, é a sua misericórdia divina. Há pessoas aprisionadas no seu passado que desconhecem que não há pecado ou miséria humana superior à misericórdia divina, e que os mais santos dos santos foram também fortes pecadores e se eles, apesar da sua miséria, tiveram futuro nós também o temos, todos o têm.
Pe. Jorge Amaro, IMC

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