15 de maio de 2013

Do Testemundo à Fé - "Vós sois a Luz do Mundo"

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Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu. Mateus 5, 14-16

A luz serve para ver – A luz revela a verdade das coisas pois mostra-as tal qual elas são; a sua verdadeira cor, textura e forma. Sem luz, na escuridão, nada se vê, nada tem cor, nada tem forma. O cristão que segue o seu mestre, que é caminho verdade e vida, também se transforma em verdade andante, caminho e vida. O cristão que o é verdadeiramente vive com sentido, é ponto de referência modelo a seguir, dedo apontado para a verdade porque a encarna e vive.

A luz serve para ser visto – Um cego foi convidado para jantar na casa de um amigo; depois do jantar, como era já noite, deu-lhe uma candeia para voltar para sua casa, o cego riu-se em tom de troça: não vês que sou cego para que me serve a candeia? Leva-a, insistiu o amigo. E ele assim fez. Quando, indo pelo caminho, já estava longe da casa alguém foi contra o cego e este, entendendo a razão da candeia, gritou; não viste a minha candeia? Não, não te vi, por isso choquei contigo, mas vejo agora que de facto tens uma candeia, porem está apagada.

Quando há falta de visibilidade, por causa da chuva ou por ser o princípio ou o fim do dia muitos automobilistas não ligam as luzes, porque, dizem eles, ainda conseguem ver; esquecem-se que as luzes também servem para serem vistos. Quando, dizendo-nos cristãos, não encarnamos a palavra de Deus, somos uma luz apagada que não além de não mostrar o caminho constitui-se em “pedra de tropeço” que é o significado da palavra escândalo em grego.

A luz expõe o mal – (…) a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más (João 3, 19). Neste sentido, a luz tem a mesma capacidade de denúncia e de anti corrupção que o sal. É no escuro, na calada da noite, em segredo que se fazem os piores males deste mundo. Expor estas injustiças é tarefa do cristão, ainda que difícil e arriscada; se ninguém o faz as trevas infestam toda a sociedade que se transforma numa máfia; “onde não entra o sol entra o medico” diz o povo.

A luz deve brilhar- No diálogo de Jesus com a Samaritana, esta pergunta a Jesus onde se deve adorar a Deus, no templo de Jerusalém ou no monte da Samaria. Jesus responde que Deus se adora em todo lugar, e porque é Espirito, em espirito e verdade se há-de adorar. Sem deixar de frequentar a Sinagoga e o Templo a maior parte do seu ministério desenvolveu-se na rua, na vida. O mesmo aconteceu nos primeiros 5 séculos da Igreja; a Palavra era pregada nas praças públicas ou passada de pessoa a pessoa pelo seu testemunho; a eucaristia era celebrada nas casas das pessoas. O culto estava na vida e a vida estava no culto.

Com a construção de templos, depois do emperador Constantino, o culto e a vida separaram-se. Hoje temos vida sem culto, os que se dizem católicos não praticantes, e culto sem vida, os que praticam a religião mas só na Igreja, cá fora são iguais ou piores que os outros. Hoje a única luz que brilha é a lâmpada do santíssimo, só na Igreja claro.

Brilhe a vossa luz diante dos homens… Estamos chamados a ser a luz do mundo, não a luz do templo; não uma luz que se coloca debaixo do alqueire, mas sim uma luz que está no cimo do monte onde se avista mais mundo. Como alguém dizia: “A Fé ou se apega ou se apaga”; a fé ou se dá ou se perde; a fé só se tem quando se dá.

Cristo é o Sol, nós somos a Lua - Toda a luz vem do Sol. Cristo é o sol das nossas vidas que nos guia, nos ilumina e nos aquece. Nós como discípulos, ou planetas, giramos à sua volta, captando a sua luz que logo, como a lua, reflectimos para iluminar o mundo que anda nas trevas. O cristão é de facto como a lua nas suas diferentes fases:

Quarto Minguante - o que pouco a pouco abandona a oração, a prática dos sacramentos, sobretudo a Eucaristia, vê a sua luz ir perdendo intensidade, arriscando apagar-se por completo.

Lua Nova - O que já colocou de parte a oração, a leitura, a escuta da Palavra de Deus e a prática dos sacramentos, já não é iluminado por Cristo nem ilumina; é um buraco negro, o chamado católico não praticante. Sem a orientação da palavra de Deus o católico facilmente se deixa levar pelas filosofias deste mundo.

Quarto crescente - O que se esforça por encarnar a Palavra de Deus e faz corpo com os outros cristãos, sendo célula do corpo místico de Cristo; cresce como pessoa na fé e na maturidade humana.

Lua Cheia – O que apesar de ter ainda zonas sombrias na sua vida (em referencia às grandes crateras da lua) fundamentalmente vive por Cristo, e como disse São Paulo de si mesmo, “já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”. A sua vida é um farol para os outros; é um Cristo vivente.

“O amor é como a lua, quando não cresce mingua”. A fé é exactamente a mesma coisa ou aumenta ou diminui, nunca permanece estática porque neste mundo não há nada estático. Sempre se disse que "o que não se usa se atrofia" a fé aumenta quando se usa na vida quando é motor da nossa vida; diminui chegando a atrofiar-se quando na vida do ia a dia não se faz uso dela quando não inspira e motiva actos e gera atitudes.

Quando assim vivemos a nossa fé, damos verdadeiramente testemunho de Cristo, somos sal da terra e luz do mundo e assim fazemos uma evangelização silenciosa pois leva à fé muitos dos que nos vêm e convivem connosco.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de maio de 2013

Do Testemunho à Fé: "Vós sois o Sal da terra"

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Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. Mateus 5, 13

Pertencemos a uma Igreja que padece de verborreia, quando o seu fundador era uma Palavra encarnada. É sintomático que Jesus tenha comparado os seus discípulos com o sal e com a luz, cuja acção se desenvolve no silêncio. Quem entendeu isto foi Francisco de Assis ao afirmar: “Em todo o tempo e lugar prega o evangelho e quando for necessário usa palavras”. O evangelho encarnado faz melhor serviço à evangelização que o evangelho proclamado, porque as obras substituem as palavras; as palavras não só não substituem as obras como são desautorizadas pela ausência destas, ou por obras contrárias às palavras; as obras podem não precisar das palavras, mas as palavras sempre precisam das obras.

Poderíamos descarregar toneladas de bíblias, no centro de um continente bem povoado, que só por elas nem uma só pessoa se converteria ao cristianismo. Também poderíamos pregar aos quatro ventos a Palavra de Deus que pouco mais conseguiríamos, pois, “as palavras leva-as o vento”. A própria Palavra de Deus, depois de ser proferida por tantos profetas, teve de encarnar para se fazer credível.

O cristianismo propaga-se pelo contacto humano, pelo testemunho de vida. “Vede como se amam”, diziam os romanos observando o talento individual e social dos primeiros cristãos. Diz-se que a educação das crianças é aérea; o que é educativo não são tanto os conselhos ou mesmo as obras que os pais fazem ante as crianças, mas o seu comportamento diário e o ambiente que criam no lar; a forma de reagir ante as situações. O mesmo se passa com a evangelização, o que suscita a fé é o testemunho silencioso da nossa vida do dia-a-dia, por essa razão Jesus exortou os seus discípulos a ser sal e luz.

O sal derrete a neve – Nas cidades, em que a neve é uma constante no Inverno, é o sal que permite que as ruas permaneçam abertas ao tráfico. O cristão que é sal ajuda a reestabelecer a comunicação entre pessoas de relações cortadas; é pacifista nos conflitos. Lembremos o embate do Titanic contra um Iceberg, as avalanches de neve que sepultam pessoas vivas; a água em estado sólido está mais ao serviço do mal e da morte que da vida. Só em estado liquido a água é fonte de vida, pois só nesse estado pode ser absorvida pelos seres vivos e fazer parte integrante deles. O sal derrete o gelo, que faz escorregar as pessoas, e mantém a água em estado liquido; o cristão que é sal, desfaz as ratoeiras, as armadilhas, as intrigas e os planos que os malvados tecem para fazer cair os seus semelhantes.

O sal fixa a água no organismo – A água e o sal estão juntos; o mar é o grande reservatório dos dois. Sem sal no nosso organismo depressa nos desidrataríamos; de facto, os saquinhos de sais de reidratação eram a primeira coisa que dávamos em África a pessoas que facilmente se desidratavam, com as altas febres que a malaria ocasiona. Tal como a água é o princípio da vida física, a água do Baptismo é o princípio da vida cristã; o cristão que é sal permanece fiel às promessas do Baptismo. No antigo ritual do baptismo o sal era usado; com o baptismo formamos parte dos redimidos, dos que possuem a água que jorra até à vida eterna. Sem o sal foge-nos esta água.

O sal conserva e preserva – O sal conserva a carne e o peixe; nos tempos em que não havia refrigeração esta era a forma de evitar a corrupção. O cristão, que é sal, evita a corrupção no tecido social das famílias, instituições, empresas, organizações, governos, clubs etc. Nas instituições onde há cristãos autênticos não há degradação nem corrupção.

No âmbito da biologia quando se abre uma ferida o corpo pode ser invadido por vírus, germes e bactérias prejudiciais à saúde; o sal tem o poder de matar muitos desses agentes nocivos. Analogamente no tecido social, no âmbito das instituições, empresas e clubes, há situações que podem dar aso a que alguém prevarique. Os ladrões não nascem como tal, como diz o povo “A situação faz o ladrão”. A presença de cristãos numa instituição tem o mesmo efeito dissuasor que as penas no sistema judicial.

O sal dá sabor – Tal como o sal dá sabor à comida; assim o cristão dá sentido à vida humana. Só Cristo responde com logica às três perguntas que todo ser humano, que vem a este mundo, se faz. De onde vimos, para onde vamos e que sentido tem a vida: sem Cristo a vida humana não tem sentido, não tem sabor não te objectivo.
Pe. Jorge Amaro, IMC