15 de setembro de 2013

Da vida à Missão

Sem comentários:
O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, (…) isso vos anunciamos. 1ª João 4, 1, 3b

A fé leva à experiência de Cristo; a experiência de Cristo ressuscitado leva a uma vida nova pois reconfigura, inspira, guia e dá sentido ao nosso viver. Esta maneira nova de viver em Cristo é já “per se” evangelizadora. Missão, portanto, não é fundamentalmente, pregar a Palavra de Deus e ser caritativo para com o próximo, especialmente os mais desfavorecidos, isso vem depois; missão é primordialmente dar testemunho da relação íntima, pessoal e amorosa que temos com Cristo, que nos trouxe saúde ao corpo e à alma e sentido ao nosso viver.

Encontrar a Cristo na nossa vida é como aquele que tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola. Mateus 13, 46. É como um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo. Mateus 13, 44       

“Missionaria”, é aquela vizinha, que experimentou este ou aquele chá, esta ou aquela mezinha ou medicamento e que ao ver-se curada não se cansa de anunciar, aos quatros ventos, o milagre que o medicamento em questão operou nela. Aqueles que a ouvem, movidos pelo seu testemunho, acreditam e a sua fé compele-os a experimentar por si próprios; se essa experiencia se dá, com a consequente transformação da vida, o processo começa de novo.

A minha alma glorifica o Senhor. Meu espirito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. Doravante todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada.
Porque o Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. Lucas 1,46-55

Ser missionário é, tal como Maria, entoar o Magnificat das maravilhas que o Senhor operou na nossa vida, de como a reprogramou, reorientou e lhe deu um objectivo. O Magnificat de Maria, como o de qualquer pessoa que experimentou a presença de Deus actuante na sua vida, é uma explosão de alegria; é um “non plus ultra”, o constatar que Deus nos enche as medidas; que “Nele vivemos, nos movemos, e existimos” Actos 17, 28

O missionário, portanto, não é primeiramente aquele que anuncia o evangelho, o que catequiza, o que fala “objectivamente” de Jesus, da sua história, vida e milagres; isso seria proselitismo não missão. O missionário não fala “objectivamente” de Cristo mas subjectivamente pois é desde a sua experiencia e vivência de Cristo que anuncia o “Kerigma”, ou seja, o evangelho.

Speak the gospel at all times and if it is necessary use words. Viver a vida como cristãos autênticos já é missão, por isso Jesus chamou aos apóstolos luz e sal do mundo; o sal e a luz não falam, operam no silêncio. As obras substituem as palavras, as palavras não substituem as obras e são ocas, e sem poder de convicção, se não são reforçadas pelas obras. Jesus falava com autoridade porque havia completa correspondência entre o que dizia, o que era e o que fazia.

A modo de conclusão, poderíamos dizer que o anuncio missionário é feito em três etapas: 
  1. Começa com o testemunho silencioso da nossa vida; o nosso “modus vivendi”; de como somos sal da terra e luz do mundo; a nossa forma de ser e estar no mundo, o comportamento do dia-a-dia, as obras e o nosso compromisso social sobretudo com os mais desfavorecidos;
  2. Continua na entoação do nosso magnificat, das maravilhas que o Senhor operou na nossa vida: Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, éramos como os que estão sonhando. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cânticos. Então se dizia entre as nações: Grandes coisas fez o Senhor por eles. Sim, grandes coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres. Salmo 126,1-3
  3. E desemboca na evangelização, ou seja, o anúncio sistemático da vida e obra de Jesus e evangelho do Reino.
    O encontro com Jesus, à beira do poço de Jacob, transformou e salvou a vida da samaritana. (João 4, 5-42). Esta, mesmo sem ter sido enviada, sentiu o desejo irresistível de partilhar a sua experiencia de Cristo com os habitantes da sua aldeia. Estes, movidos pelo entusiasmo da Samaritana, acreditaram e vieram eles mesmos encontrar-se com Jesus.

    A Palavra sábia, que emana do intelecto e da erudição, pode ou não gerar vida; mas a palavra testemunho, que brota da experiência vivida, gera sempre vida.
    Pe. Jorge Amaro, IMC

    2 de setembro de 2013

    Da Experiência à Vida

    1 comentário:

    -    Ouvi dizer que te converteste a Cristo, pelo que deves saber muito sobre ele; em que país nasceu?
    -    Não sei
    -    Com que idade morreu?
    -    Também não sei
    -    Deves saber pelo menos quantos sermões pregou?
    -    Hum… pois também não sei
    -    Pareces saber muito pouco para um homem que se diz convertido a Cristo.
    -    É verdade e eu mesmo me envergonho de saber tão pouco. Mas o que sei é que eu antes era viciado no álcool; estava com dividas até ao pescoço; a minha família estava despedaçada; a minha mulher e filhos temiam a hora em que voltava a casa a altas horas; não havia dinheiro para cadernos nem móveis. Depois de conhecer a Cristo deixei de beber, não tenho dívidas, o nosso lar é um lar feliz.
    -    Hum… e acreditas mesmo que ele transformou a agua e vinho?
    -    Não sei, não estava lá, mas o que sei é que na minha casa transformou vinho em móveis, cadernos e a miséria em felicidade.

    Um cão ou um gato sem dono estão em perigo de vida deambulam e abeiram-se de pessoas pedindo que os salvem. Se alguém se comove deles e lhes dá uma caricia ou alimento eles seguem essa pessoa para onde quer que ela vá. A mesma coisa acontece entre humanos apesar dos milhões de anos de evolução que nos separam destes animais. O cego de Jericó, a Samaritana, Zaqueo, Maria Madalena, são exemplos de pessoas perdidas na vida, sem pão, sem saúde e sem amor; ao encontrarem Jesus encontraram a salvação e deixando para trás a antiga vida, seguiram-no fazendo-se seus discípulos.

    Sempre me impressionou o facto de a maior parte dos santos, da Igreja Católica, serem pessoas que possuíam tudo, o que o mundo pode oferecer e que nós tanto procuramos: juventude, riqueza, nobreza, beleza, fama, poder. Se tudo isso deixaram, ao encontrar-se com Cristo, não deve ser porque eram estúpidos mas sim porque encontraram em Cristo algo melhor e maior.

    Na vida aprende-se mais dos erros que dos acertos; no entanto, e uma vez que a vida é curta e não há tempo para os cometer todos e retirar deles as devidas lições, porque não aprender com os erros dos outros? Neste sentido porque não aceitar o testemunho de tantos santos, e deixarmos de buscar o que eles tiveram e julgaram como porcaria, para nos agarramos a Cristo, único caminho verdade e vida?

    Bartimeu – O encontro com Jesus curou-o da sua cegueira; abriu-lhe os olhos e começou a ver a vida de outra forma, de um salto deixou para trás a vida prévia (simbolizada na capa) e seguiu Jesus. Marcos 10, 46-52

    Samaritana – Encontrando em Jesus a verdadeira água, abandonou no poço o cântaro, símbolo de uma vida feita de vaivéns, em busca de uma água que nunca chega a saciar.

    Paulo de Tarso – O encontro com Cristo inverteu a marcha da sua vida; a mesma energia que usou para combater Cristo, serviu depois para difundir a boa nova do Mestre por todo o mundo antigo.

    Francisco de Assis – Jovem e filho único de uma rica família burguesa que podia pagar todos os seus caprichos; encontrou Cristo e abandonou a riqueza material para se abraçar à riqueza espiritual.

    Nuno Alvares Pereira – Jovem, nobre, famoso herói de Aljubarrota, possuía meio Portugal e merecia, mais que o Mestre de Avis, ter sido rei de Portugal; abandonou tudo por uma riqueza maior, Cristo.

    Francisco de Borgia - Nobre da grande família dos Borgia servia com dedicação o Emperador da Europa Carlos V casado com a belíssima Isabel de Portugal filha mais velha de Dom Manuel I. Ao contemplar a jovem e bela imperatriz no seu leito de morte disse: "Nunca más, nunca más, servir a señor que se me pueda morir".

    Beatriz da Silva – Os ciúmes da rainha fizeram encerrar num cofre a bela e jovem Beatriz; ali se encontrou com Cristo, ao conseguir soltar-se disse adeus à corte e seguiu o seu mestre.

    Em todas estas vidas, há um antes de conhecer Cristo e um depois de o conhecer. Quem diz que se encontrou com Cristo e mantem com ele uma relação intima e pessoal mas não mudou de vida, anda enganado e iludido.
    Pe. Jorge Amaro, IMC