1 de agosto de 2013

Experiência - Sálus - Metanóia

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Entrando em casa de Pedro, Jesus viu que a sogra dele jazia no leito com febre. Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a. E ela, levantando-se, pôs-se a servi-lo. Mateus 8, 14-15

O testemunho qualificado de cristãos autênticos coloca-nos ante a opção da fé. Somente quando optamos por acreditar a que nos predispomos para ter uma experiência de Cristo, que nos dará a certeza de que a nossa fé não é vã (1 Cor 15, 17) e de que ele está vivo e actuante em nossas vidas.

Experiência pessoal de Cristo
Nunca deixou de me surpreender o facto de que Paulo, o maior divulgador da fé em Cristo, nos tempos apostólicos, não era tecnicamente um apóstolo, pois não era um dos doze; nem sequer poderia ter substituído a Judas, no colégio apostólico, como Matias pôde, porque não cumpria os requisitos: não era dos que acompanharam a Jesus, desde o Baptismo de João até à Ascensão (Actos 1,21-22).

Apesar de ser contemporâneo de Jesus não o conheceu pessoalmente, por isso não poderia tecnicamente dizer, como os outros apóstolos, o que vimos e ouvimos e as nossas mãos tocaram isso vos anunciamos… (1ª João 1, 1-3) No entanto, Paulo, fala da sua experiência de Cristo com um realismo em nada inferior aos que viram, ouviram, tocaram (Gálatas 1, 11-19).

Ele é só o primeiro de inúmeros outros que, ao longo de 2000 mil anos, em todos os continentes, em inúmeras línguas e no contexto das mais variadas culturas, tiveram de Cristo uma experiência pessoal tão real, que alterou radicalmente o seu viver a ponto de por Ele estar dispostos a dar a vida. Provam-no os milhares de mártires, que testemunharam com o seu sangue a sua experiência íntima pessoal e amorosa com Cristo. Por si só, este facto seria prova suficiente de que Jesus de Nazaré foi e é uma realidade, viveu, morreu, ressuscitou e está vivo. De não é verdade, nunca tantos se enganaram tanto.

Salus
Desde os bancos da catequese que sabemos que Cristo veio ao mundo para nos salvar, morreu e ressuscitou pela nossa salvação. Se perguntarmos, à maioria dos cristãos, o que significa ou em que consta a salvação, dir-nos-ão que é livrar-se do inferno e ir paras o Céu. “Salvação” é uma palavra tão gasta pelo uso que as pessoas já a ouvem sem lhes dizer nada.

Em latim salvação é salus e salus não significa, primariamente, salvação mas sim saúde e também segurança e bem-estar em geral. Cristo, não é só a salvação para a segunda etapa da nossa vida, “o céu pode esperar”, é também a nossa saúde a do corpo e da alma, aqui e agora; a nossa segurança, a única verdadeira segurança num mundo sempre em constante mudança; é ainda o nosso bem-estar, a nossa alegria e felicidade.

Jesus não estava preocupado só com a salvação da alma mas sim com a saúde em geral; por isso tanto curava os cegos, os coxos e os surdos-mudos, como perdoava os pecados e alimentava as multidões com pão e peixe; e, como vinho na bíblia tem muitas vezes o significado de alegria, também transformava as suas vidas, aguadas e tristes, em inebriantes de alegria.

No evangelho todos os que se encontraram com Cristo, todos os que com Ele se relacionaram sentiram-se salvos, curados, alimentados, os seus pecados perdoados, e encontraram segurança alegria e bem-estar.

Metanóia
A sogra de Pedro, os coxos, os cegos, os surdos-mudos, os leprosos e endemoniados, encontraram a saúde física e psíquica; a pecadora que derramou lágrimas aos pés de Jesus, a mulher apanhada em adultério à espera de ser punida, Zaqueu, e o filho pródigo encontraram a saúde moral e espiritual; a samaritana foi liberta do seu obsessivo, e aditivo vai e vem ao poço, e encontrou a liberdade e autonomia de uma água que brota de dentro; os 5000 encontraram saciedade e os convivas de cana alegria, no bom vinho e no convívio, o bom ladrão na hora da morte encontrou a salvação eterna. Ontem, hoje e amanhã, ninguém se encontra com Cristo sem experimentar um cambio radical na sua vida.

A palavra grega metanóia significa mudança de mente, mudar a forma de pensar, ou simplesmente mudar de ideias como diríamos coloquialmente. Como são as ideias e ideologias que inspiram o nosso comportamento do dia-a-dia mudar de ideias significa mudar de vida.

Há uma terapia psicológica que se fundamenta nesta intuição: REBT (terapia, comportamental, emocional e racional); segundo esta teoria, quase todas as emoções e comportamentos resultam do que as pessoas pensam, acreditam e assumem como verdade acerca delas próprias, dos outros ou do mundo em geral; se estas crenças forem irracionais, os sentimentos e comportamentos serão inadequados. A função do terapeuta é confrontar essas crenças com a razão para as destruir.

Confrontando a nossa forma de pensar com o evangelho, adquirimos a forma de pensar de Jesus e com o tempo começamos a actuar encarnar e incorporar o evangelho, com vistas a um dia poderemos dizer como São Paulo, “Já não ou eu que vivo é Cristo que vive em mim”. (Gálatas 2,20)
Pe. Jorge Amaro, IMC