31 de março de 2013

Ressureição ou Reencarnação?

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Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual. Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual. 1 Cor 15, 42-44

A reincarnação é um conceito, hinduísta e budista, que a New Age se encarregou de difundir no mundo ocidental cristão. O pensamento frágil, e tantas vezes incongruente, do homem de hoje fascinado com a possibilidade de ter sete vidas, como o gato, assimilou este conceito acriticamente. É frequente encontrar cristãos, que tanto acreditam na ressurreição como na reincarnação, sem se darem conta que os dois conceitos se auto-excluem.

Como tudo, o que é autenticamente humano, a fé sempre escapará à lupa do método científico de conhecimento; o homem não é objecto de ciência. No entanto, para não degradar em pura superstição, a fé tem de estar casada com a razão. A superstição é irracional, a fé, não sendo racional, é pelo menos razoável, plausível, deve fazer sentido. Façamos o teste da razão a ambos os conceitos:

Reencarnação – Como na filosofia grega para os orientais a alma é eterna, existe antes e é independente do corpo que encarna. Num processo ascendente rumo à perfeição, cada vida, cada corpo, que a alma encarna, é uma oportunidade para progredir rumo à perfeição, encarnando sucessivamente em formas de vida superiores e cada vez mais perfeitas. Ao contrário, quando a alma se porta mal regride, ou seja reincarna, na vida seguinte, numa forma inferior de existência que pode até ser um animal, uma vaca por exemplo.

Astronomia – A reincarnação, parece supor que o mundo sempre existiu e sempre existirá; mas a astronomia actual diz que o mundo começou a existir com um Big Bang e deixará um dia de existir, quando o universo tiver gasto toda a sua energia

Demografia – A reincarnação para ser possível supõe um planeta com a mesma população ao longo dos tempos. A demografia diz-nos que o homem começou a habitar neste planeta há 5 milhões de anos; calcula-se que a população mundial no tempo de Jesus fosse de 300 milhões de pessoas, agora somos 7 mil milhões.

Evolução das Espécies – A vida começou com um ser unicelular que se foi diversificando e progredindo, para espécies sempre superiores e mais inteligentes até chegar ao ser humano. A ciência da evolução das espécies não conhece nenhuma regressão. Entre nós e os animais há milhões de anos de evolução que não são reversíveis.

Genética – A combinação dos genes, no código genético de cada ser vivo, é única e irrepetível na história da vida deste planeta; parte da dignidade humana deve-se a este facto. Não faz sentido que uma alma possua um código genético, por cada vida que vive, nem faz sentido que vários corpos da mesma alma possuam um mesmo código genético.

Regressão – Como explicar então certas terapias, que levam a pessoa a regredir e a conhecer o que foi noutra vida e que tipo de pessoa era? Se há alguma verdade neste fenómeno, poderia ser explicado pela noção de “inconsciente colectivo”, proposto por Carl Jung, discípulo de Freud. As pessoas não regrediriam então a outras vidas que tiveram mas sim, pela meditação e técnica de regressão, se conectariam a materiais psíquicos, que não provêm da experiência pessoal, e que se encontram no que Jung chama “inconsciente colectivo”; este é a uma espécie de base de dados, de herança e património de toda a humanidade, que contem tudo o que o ser humano é e fez ao longo da sua Historia.

Ressurreição – Este conceito não deve satisfações ou explicações a nenhuma das ciências descritas, anteriormente, pois não está em conflito com nenhuma delas. No pensamento judeo-cristão a alma não é eterna e está intrinsecamente unida, e para sempre, a um corpo; não existem corpos sem alma, nem almas sem corpos.

Pela Graça de Deus cada ser humano é naturalmente candidato à vida eterna, sendo todo o seu ser, corpo e alma transformado numa forma imortal de existência, o corpo espiritual ou glorioso (1 Cor 15, 42-44). Os que respondem negativamente à graça de Deus, negando-a nas suas vidas e vivendo de costas para Ele, estão, provavelmente, a auto candidatar-se à morte eterna, ou seja, ao regresso ao nada, de onde Deus criou tudo.
Pe. Jorge Amaro, IMC

15 de março de 2013

A Morte não existe

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Senhor padre há uma coisa que não entendo; quando eu morrer, o meu corpo vai par a terra, a minha alma vai para o céu e eu? Para onde vou eu?

A morte não deveria preocupar-nos pois nunca coincidiremos; enquanto nós existirmos ela não existirá; quando ela existir não existiremos nós. Karl Marx

Com diz a lei de Lavoisier, na natureza nada se perde tudo se transforma. Em contínuo devir, nada permanece igual. Morte e vida são parte de um mesmo processo, não há vida sem morte nem morte sem vida. A morte não é um estado, em que se possa encontrar um ser vivo, mas sim a passagem de uma forma de vida para outra forma de vida. A morte é o meio, pelo qual a vida se diversifica e progride na evolução das espécies.

Cresce a erva verde dos campos até ao dia em que a gazela a come; a erva não morreu, progrediu e mudou de forma, transformou-se em gazela. A gazela pula e salta pelas ravinas, bebe água nos ribeiros e passeia pelos bosques até ao dia em que é comida pelo leão; ela não morreu, foi absorvida e assumida pelo corpo do leão. O leão como não tem predadores, morre de velho ou nalguma luta de supremacia de machos, os seus restos mortais são comidos pelas hienas e os abutres e o que resta, é comido pelas formigas e vermes que, por sua vez, ao morrer fecundam a terra onde volta a crescer a erva.

Aparentemente, tanto vale a vida como a morte pois nenhuma permanece, ambas se sucedem sucessivamente sem cessar. No entanto, se observarmos mais detalhadamente, damo-nos conta que não é assim. Apesar de serem duas partes ou etapas de um mesmo processo, a vida e a morte não estão em pé de igualdade; pelo contrário a vida está num plano superior porque não existe em função da morte mas a morte sim existe em função da vida. Não é portanto verdade o que diz o filósofo Heidegger: “Somos um ser para a morte”. A erva viveu durante meses antes de morrer; assim mesmo a gazela e o leão viveram durante anos antes de morrer; a morte foi um momento a vida foi anos; a morte foi uma passagem a vida é uma constante, somos portanto um ser para a vida.

O mesmo processo de vida-morte-vida, que acontece entre os seres vivos na cadeia alimentar, acontece no interior de cada ser vivo. O nossos corpo é formado por 100 trilhões de células; cada uma delas comporta-se como se fosse um ser vivo seguindo as regras que regem a vida neste planeta, ou seja, nascem crescem reproduzem-se e morrem (curiosamente só as células cancerígenas se recusam morrer); é desta forma que se explica o crescimento a transformação e envelhecimento do nosso corpo; cada 5 anos possuímos um corpo biologicamente novo.

A maturidade psicológica, que segundo Freud se dá na passagem do princípio do prazer para o princípio da realidade, também implica e supõe a morte. O mesmo, se pode dizer, para a maturidade espiritual: “Quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la”. Lucas 9, 24   

Como o leão que não tem predadores, está no topo da sua cadeia alimentar e é o rei da selva, o Homem é o rei da criação. Páscoa significa passagem; a nossa morte ou a nossa Páscoa é semelhante à de Cristo. A passagem de uma forma de vida, espácio-temporal, para uma vida na eternidade de Deus, na qual não seremos apenas uma alma mas, como Cristo, possuiremos um corpo espiritual, um corpo glorioso. Por isso não desfalecemos, pois “Bem sabemos que, quando esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, construída por Deus e não pelos homens“ (2ª Coríntios 5, 1).
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de março de 2013

O Jejum é para a vida o que o zero é para a matemática

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Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, (…) Quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo (…) Quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto… Mateus 6, 3, 6, 18

Se orar é a nossa atitude para com Deus, é  dizer-lhe que O amamos sobre todas as coisas, sendo também a mais alta manifestação da nossa liberdade; se Dar esmola é a nossa atitude para com os outros, amando-os como nos amamos a nós mesmos, sendo esta a única garantia de igualdade e de justiça social, para que serve o Jejum?

Tal como o Orar e o Dar esmola, o Jejum também é algo mais que privar-se de alimentos, refere-se à atitude que temos para connosco próprios. Já descrevemos os dois valores sobre os quais assenta a vida humana; a liberdade, na sua dimensão individual e a igualdade, na sua dimensão social.

O jejum é como o zero ao serviço da matemática; foi a invenção do zero que fez possível a matemática, com a numeração romana, onde este não existe, a matemática não seria possível. Analogicamente é o Jejum que faz possível a igualdade e o amor ao próximo, assim como a liberdade e o amor a Deus.

Jejum em sentido lato - Como posso afirmar na minha vida o outro, seja ele Deus ou o meu semelhante, se não me nego a mim mesmo? (Marcos 8, 34) Se não jejuo ao meu egocentrismo e renuncio ao engrandecer e inchar do meu ego privando-me de ter mais? Que vassalagem posso prestar a Deus se me considero senhor de mim mesmo?

Como posso servir a Deus e ser livre se sirvo o dinheiro, (Mateus 6, 24) dei o meu coração às riquezas, ao poder, ao prazer? Se não me possuo, como posso dar-me ao Outro Deus ou ao outro meu semelhante? Como posso amar o próximo, e sentir-me igual a ele, se em vez de o servir, me sirvo dele? E como posso partilhar o que é meu, coisas, tempo e energias, se antes não renuncio a elas? Usando uma expressão muito actual no nosso país em crise, jejuar é cortar na despesa; é cortar na despesa que tenho comigo próprio, tempo, energias e recursos para poder dar e dar-me aos outros.

Jejum em sentido restrito, ou seja privar-se de alimento – O jejum, ou dieta em linguagem médica, está para a saúde da alma como o desporto está para a saúde do corpo. Não fazemos vida do jejum pois não somos monges, nem fazemos vida do desporto pois não somos desportistas; mas a pratica moderada do jejum, potencia tanto a saúde da alma como a prática moderada de desporto potencia a saúde do corpo.

O jejum e o desporto, assim entendidos, estão ao serviço da vida pois nos treinam para ela, concedendo-nos muitos benefícios. O desporto treina o corpo e a mente dando-lhe mais energia e saúde; o jejum, como privar-se de comer ou a abstinência como privar-se de certos alimentos, treinam a alma na arte e capacidade de negar-se a si mesmo, abnegação, autocontrole e força de vontade.

Como, depois do respirar, o alimento é a necessidade mais indispensável que temos, privar-se dele custa muito; por isso mesmo constitui o melhor treino para conseguir jejuar em sentido lato, ou seja, fazer cortes ao EU para afirmar o TU, que é o que verdadeiramente importa.

O jejum faz a pessoa animicamente mais forte e prepara-a para maiores sacrifícios e abnegações, o contrário também se verifica; aquele que não tem autocontrolo no consumo de alimentos e é guloso, dificilmente será uma pessoa que partilha, e é bem provável que também seja volúvel e ganancioso.

Esaú perdeu a progenitura por um prato de lentilhas (Genesis 25, 29-34); que a gula, pecado que já ninguém confessa nesta sociedade de consumo, não nos leve a perder o corpo e a alma. Como diz o povo “o guloso escava a sepultura com os dentes” e “a avareza rompe o saco”
Pe. Jorge Amaro, IMC