28 de janeiro de 2013

Reiki e Cristianismo

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Voluntários de Reiki - Cenif - Guimarães
Quem não é contra nós é por nós. Marcos 9,40

Se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam, então, os vossos discípulos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes Mateus 12, 27

Reiki é a união de duas palavras japonesas: Rei, que significa universal, total ou essência; Ki, que significa energia vital. Criado por um budista Japonês, Mikao Usui, o Reiki é uma terapia natural, não invasiva, que visa restabelecer a saúde e o bem-estar espiritual e psicofísico da pessoa. Pela imposição de mãos, o terapeuta, ajuda o paciente a ganhar acesso à energia vital, universal e divina, que alivia o stress e acelera o processo de cura natural do corpo e da mente. O terapeuta é só um catalisador ou facilitador; sendo o paciente que se cura a si mesmo, ao conectar-se à energia vital divina e sanadora.

Em todas as curas milagrosas de Cristo a fé do requerente era uma condição "sine qua non". Também no Reiki é o paciente, por meio do terapeuta, que se conecta com a energia vital e sanadora de Deus. Esta fé é catalisadora da energia salvífica que imana de Deus como vemos no episódio da cura da mulher que padecida de hemorragias: ela tocou na orla do manto de Jesus, sem Este se dar contra, e ficou curada. (Lucas 8 43-48)

O pensamento contemporâneo já não explica a realidade com base na física mecanicista de Newton, mas sim com base na teoria da relatividade e na física quântica. No entanto, a maior parte dos pensadores cristãos, os teólogos, ainda tem a mente formatada pela física newtoniana, sendo esta no fundo, uma das razões pelas quais rejeitam o Reiki como técnica de cura física e psicológica.

Sendo a fé, como diz o Concilio Vaticano I, um “obséquio razoável” no quadro de uma física mecanicista de Newton, onde a realidade é governada por leis fixas inalteráveis, torna difícil explicar os milagres e curas de Jesus, a ressurreição de Cristo e subsequentemente a nossa. Estes mesmos mistérios têm uma explicação mais razoável se os explicarmos com base na teoria da relatividade, da física quântica e do princípio de Heisenberg, para os quais já não se fala de leis da natureza mas sim de probabilidades estatísticas, que comportam um alto grau de incerteza e imprevisibilidade. Para Einstein a energia e a matéria são transmutáveis e equivalentes; a energia é uma forma de matéria, e a matéria, uma forma de energia.

A mentalidade maniqueísta, que entende que na criação há coisas boas e coisas más e que advoga Deus como o senhor das boas e o diabo como o senhor das más, esquece que Deus criou tudo do nada e tudo o que Deus criou é bom. Tudo na natureza são manifestações da sua bondade e não há forças supernaturais que não sejam manifestações do poder de Deus.Cristo tem ovelhas de outro redil (João 10, 16) e basta que elas não estejam declaradamente contra nós para estarem a nosso favor. (Marcos 9, 40)

Também há quem relacione Reiki com New Age e que por isso deve ser condenado. A New Age é um sincretismo de religiões e por esse motivo não deve ser considerada totalmente negativa. Rejeitando a ideia de que Deus não é um ser pessoal mas sim uma energia, tudo o resto pode ser adaptado ao cristianismo. Acaso, nós cristãos, não construímos igrejas, onde antes eram templos pagãos? E não substituímos o culto a deusas pela veneração a Maria a mãe do Senhor? Quem não gosta das músicas de Enya e da magia dos livros de Paulo Coelho? E no entanto são New Age. “Não deitemos fora o menino com a água da banheira”.

O Reiki, tal como o Yoga, o Zen, a meditação transcendental e outras terapias orientais, não são uma religião nem sequer uma filosofia, mas sim técnicas de cura e crescimento espiritual. O Reiki não proclama que Deus é uma energia cósmica mas que, essa energia cósmica é divina. Também não diviniza o seu fundador Mikao Usui, apesar de ele se ter inspirado em Jesus e nas suas curas milagrosas pela imposição de mãos. A sua técnica é seguida, mas o seu nome não é invocado durante a terapia. Não existe nenhuma normativa no Reiki que proíba terapeutas cristãos de invocarem o nome de Jesus ou o Espirito Santo, para obter a graça da cura.

Tirei um curso residencial de psycho-spiritual counseling, com a duração de dois anos, num instituto católico em Inglaterra, fundado pelo Cardeal Hume de Londres. Durante esse tempo, formei-me em várias técnicas de cura, entre as quais Reiki,. Os meus mestres, sacerdotes  como eu e algumas religiosas, não vemos nenhuma contradição entre a fé cristã e a prática de Reiki, pelo contrário, achamos que até se podem complementar.
Pe. Jorge Amaro, IMC

13 de janeiro de 2013

Fé, Missão e Martírio

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Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! Lucas 12.49
Em sintonia com o ano da fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, Fé Missão e Martírio é o tema anual, de reflexão, para toda a família Consolata. Este tema percorre transversalmente e inspira as nossas actividades, encontros e retiros para este ano.

A fé verdadeira é mais que uma cosmovisão - uma forma de ver e interpretar o mundo e a vida; mais que um assentimento intelectual à crença na existência de um Deus, Criador do Céu e da Terra e Salvador em Cristo seu único filho; mais que um sentimento de amor por Deus e pelo próximo; mais que uma opção fundamental, pois transversalmente penetra tudo o que somos, sentimos e fazemos. A fé é tudo isto, mas é também, e sobretudo, um dom de Deus. Tal fé encontra na Missão a sua expressão natural. Parafraseando o apóstolo, Tiago 2,17, a fé sem Missão é uma fé morta.

Missão e martírio são uma e a mesma coisa. Missão não é fundamentalmente pregar a palavra de Deus, nem fazer obras de caridade, Missão é dar testemunho da nossa relação íntima de amor com Cristo, e oferece-la aos outros. Ninguém pode dar o que não tem, se não possuímos uma relação intima, pessoal e amorosa com Cristo não podemos, nem devemos ser missionários.

Testemunho em Grego é “martirete”; o missionário é o que dá testemunho de Cristo, quaisquer que sejam as circunstâncias, a tempo e a destempo, a propósito e a desproposito, como diz São Paulo. Esse dar testemunho pode significar uma vida curta, como a de Cristo, dar a vida num minuto; ou pode significar uma vida longa, sendo fiel minuto a minuto, todos os minutos da nossa vida.

Há portanto duas formas de martírio, como há duas formas de combustão: combustão viva, “poner toda la carne en el assador”, ou combustão lenta, como quando se faz carvão vegetal, lentamente a madeira transforma-se em carvão, que por sua vez lentamente vai ardendo e aquecendo quem tem frio.

Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la. Marcos 8, 35

Missão apela à vida, martírio apela à morte. Em Cristo, vida e morte encontram-se harmonizadas: “What is not worth dying for is not worth living for”. Não ocupes a tua vida com coisas pelas quais não estás disposto a morrer; que a razão da tua vida seja a razão da tua morte e vice-versa.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de janeiro de 2013

Dimensão Cristã do Tempo

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Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos. Hebreus 13,8

Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22, 13

O tempo cósmico, o Circulo, – Partindo do objectivamente observável, na Antiga Grécia e no Extremo Oriente prevaleceu sempre uma compreensão circular do tempo: do ponto de vista cósmico, os 365 dias que a terra leva a dar uma volta ao sol; do ponto de vista da Natureza, mais propriamente das mudanças climatéricas, as quatro estações do ano, Primavera, Verão, Outono e Inverno. A partir destes factos, nasceu para a Filosofia o mito do “eterno retorno”, para a Ciência a ideia de que “Não há nada de novo de baixo do sol” e para a Religião a crença na “reencarnação”.

O tempo humano, a Recta – Do ponto de vista existencial e humano, cada dia que passa é um dia mais que vamos viver e um dia menos do que nos resta de vida. Conceber o tempo como uma recta, que vem do passado, passa pelo presente e se dirige ao futuro, não é nada que se possa observar na natureza. O tempo em linha recta é o tempo da história individual e comunitária, o tempo que integra a ideia de progresso: hoje foi melhor que ontem, amanhã será melhor que hoje. Na Filosofia, a máxima “não nos banhamos duas vezes nas águas do mesmo rio” de Heraclito partilha desta compreensão do tempo, verificando-se o mesmo na Cosmologia e na Religião que veiculam as noções do princípio e do fim do mundo.

Esta é também a concepção judaica do tempo: a saída do Egipto (terra de escravidão), a passagem pelo deserto (lugar do sofrimento, penitência, purificação e esforço) e a entrada na Terra prometida, onde corre leite e mel (terra da liberdade, do esforço recompensado e da obra acabada). Este é o arquétipo do progresso e da vida humana preconizado, até, pelo teoria de Karl Marx, na qual: o Egipto seria o capitalismo, o deserto seria a ditadura do proletariado e a terra prometida seria o socialismo e a sociedade sem classes.

O tempo Cristão, a Espiral – É a síntese entre a recta e o círculo, dado que é um círculo em contínuo movimento para a frente. O dicionário da língua Portuguesa define espiral como sendo “uma linha curva, ilimitada, descrita por um ponto que dá voltas em torno de um polo e do qual se afasta progressivamente” como uma hélice, uma mola ou uma escada em caracol. Este é o tempo cristão e, inclusive, o humano (é de notar que é sob a forma espiral que o ADN do nosso código genético é representado). Como indica a figura, cada ano constitui-se por 365 dias à volta do Sol – Sol que é Cristo, que ilumina e dá sentido à nossa vida, que é o princípio e é o fim, quer do Universo como das nossas vidas individuais.

O tempo cristão, portanto, nem é um círculo nem é uma recta, ou seja, cada Natal e cada Páscoa são diferentes, dado que o ano em que estamos e as condições situacionais em que vivemos são diferentes. No entanto, Cristo é a constante durante toda a nossa vida, Ele é o eixo à volta do qual gravitamos, “É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos” (Actos dos Apóstolos 17,28). Cada ano que passa meditamos em torno do mistério de Cristo, desde a sua Encarnação até à sua Morte, Ressureição e Ascensão aos céus. Em última análise, para irmos saindo do nosso “Egipto” pessoal, configurando a nossa vida cada vez mais à Dele, no sentido um dia chegarmos à Terra Prometida e podermos dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”. (Gálatas 2,20). Feliz Ano Novo amigos!
Pe. Jorge Amaro, IMC